sexta-feira, 25 de março de 2016

CRUZ

A cruz é um sinal produzido pela a humanidade. Não sabemos a sua origem, o fato é que ela se faz presente desde antiquíssimos tempos. Por exemplo, na Índia antiga a cruz significava "boa sorte" para os Egípcios era a "chave da imortalidade". Para o filosofo grego Pitágoras está associada ao numero quatro, ou seja, a ordem do mundo os elementos aguá, ar, terra, fogo, é a junção de duas forças oponentes entre si que se harmonizam em vista de um determinado fim; por exemplo o humano e o divino, o espaço e o tempo, alto e baixo... 
Já para os odiosos e sua mentalidade punitiva, a cruz foi um humilhante objeto de castigo, sofrimento condenação e morte, até que o filho de Deus nosso amado Salvador fosse punido na cruz, o significado muda. Ao aceitar e abraçar a cruz, carregando-a em suas costas, ungindo-a com o seu sangue a mesma é purificada torna-se Sinal Sagrado. Para os impiedosos é e foi loucura, maldição, já para os redimidos é benção "Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é poder de Deus" (1 Cor.-1,18)
O antigo e negativo significado de morte é revestido pela compreensão de vitória, é neste sentido que os cristãos católicos adoram a cruz,  tendo em vista esperança e ressurreição. A cruz de Cristo é a pura e autentica solidariedade de Jesus com o gênero humano é a conquista da luz contra as trevas, é benção e ponte que une o céu e a terra, é o fundamento do discípulo e de todo batizado "Se alguém quiser acompanhar-me,  negue-se a si mesmo tome sua cruz e siga-me." (Mc 8,34).
Adoremos a Santa Cruz, percorramos com ela o caminho que Cristo nos aponta.

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 19 de março de 2016

O REI CHEGOU O SIGAMOS

       A cidade de Jerusalém, foi invadida numa manhã de domingo por um bando de empobrecidos, doentes, camponeses, pecadores, curiosos... eram os desprezados do poder religioso e político, que agitavam ramos, galhos, folhas de arvore, que iam pegando ao longo do caminho. Essa gente que agora sai do anonimato, da periferia, adentra o centro da cidade causando confusão, alarido, gritavam, aclamando aquele que os conduziam: "Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! hosana no mais alto dos céus", todos desse cortejo ouviram falar ou testemunharam Lázaro sendo ressuscitado por Jesus, após quatro dias no túmulo. Por isso o aclamam como rei, queriam um rei para resolver todos os problemas, o mais indicado é Jesus, pois multiplica pães, cura doentes, perdoa pecados ressuscita mortos... só não sabiam que o reinado de Jesus é espiritual, não material, político, "o meu reino não é deste mundo"(Jo-17,15) ficaram surpresos, embravecidos quando viram o Cristo sendo condenado, onde está o poder desse homem? esses mesmos vão gritar mais tarde crucifica-o!
  Surpresa e agitação maior teve a cidade diante de tanta manifestação, assustados perguntavam uns aos outros: quem é esse homem? referiam-se a quem estava sendo o centro daquele movimento, que com poder, determinação, conduzia a multidão, era um homem simples com vestes de pobre montado num jumento, sinal de humildade, verdade. O verdadeiro poder que habita em Jesus não é opulento, arrogante, é inclusivo, amoroso, diferente do poder dos imperadores dos reis e governantes deste mundo.
  Todos os quatros evangelistas descrevem a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. São Mateus mostra Jesus entrando nessa cidade montado num jumento, faz isso para resgatar uma antiga profecia de Zacarias: "Eis que vem a ti o teu rei, ele é justo e trás a salvação; ele é pobre e vem montado sobre um jumento, sobre um potrinho, filho de uma jumenta" 
(Zac. 9,9). A profecia é para falar que o reinado de Jesus é de justiça, salvação, humildade. Em Lucas o povo o proclama Bendito "Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e gloria nas alturas!" Acontecimento de tamanha proporção nunca ocorrera. O trote simples e pequeno do jumento, simboliza, delicadeza, serenidade com que Jesus se aproxima dos seus. Diferente do trote da cavalaria imperial, que ao entrar na cidade provocava medo e repressão, com armas de guerras, estandartes do poder...
  Os que seguiam essa procissão, eram condizidos na expectativa de terem um rei triunfante pois o testemunharam por diversas vezes curando, perdoando pecados, o queriam como rei, para restaurar o que estava corrompido por uma politica podre, exploradora por uma religião da culpa, do ritualismo, do fardo. Encorajados respondiam a todo peito com voz firme: "este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia". Jesus tem plena consciência das dores e exploração, tanto politica como religiosa que o povo sofria, ao conduzi-los deixava claro que tudo pode mudar para melhor, é para a frente que devemos caminhar, a historia se faz passo a passo, temos um longo caminho a percorrer. Jesus entrou na historia humana para nos lembrar da nossa participação no processo de transformação. A força, o poder emana do povo, categoria muita das vezes explorada de forma negativa por poderosos do mal.
  Assim também Jesus quer entrar na vida das pessoas, ele reconhece nossa pobreza espiritual, nossas dificuldades de caminhar, por isso ele passa na frente, quanto a nós, o sigamos com alegria, fé, determinação, percorramos também o dificultoso caminho da vida, muitas das vezes marcados por sofrimento, até morte, mas com fé aguardemos o glorioso dia da ressurreição.
Na liturgia católica esse acontecido marca o começo da Semana Santa, o Kairos de Deus agindo em Jesus, através da santa paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que permeada de humilhação, dor, condenação e morte de cruz, resplandecerá adornada de brilho e luz na manhã da ressurreição, caminhemos pelas estradas da vida, erguendo, agitando nossas esperanças, a passos firmes sigamos a Jesus nosso guia: reze - Jesus eu vos peço, venha caminhar sempre do meu lado sejas minha doce e suave companhia no dia-dia do meu existir, firmai os meus passos, sejas luz na minha consciência, vitalidade no meu espírito, na procissão da minha vida eu quero sempre ser seu seguidor, com os meus irmãos e irmãs o seguirei proclamando seu teu amor para com todos e com tudo.

Pe. Antonio Gouveia.

sexta-feira, 4 de março de 2016

SANTO AGOSTINHO, SOBRE O FILHO PRODIGO

     quarto domingo da quaresma- Lc-15,1-11-32

O homem que tem dois filhos é Deus que tem dois povos: o filho mais velho é o povo judeu; o menor, os gentios. (pecadores)
O patrimônio que este recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para que o conhecêssemos e Lhe déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor "partiu para um país muito distante". Distância significa: o esquecimento de seu Criador. "Dissipou sua herança vivendo dissolutamente": gastando, não ajuntando; perdendo tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, em todo tipo de desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.
Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. "Sobreveio àquela região uma grande fome"; fome não de pão visível mas da verdade invisível. E, por causa da fome, "foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região": entenda-se o diabo, o senhor dos demônios, sob cujo poder caem todos os curiosos, pois a curiosidade é o pestilento abandono da verdade.
À margem de Deus, por entregar-se a seus próprios recursos, foi submetido à servidão e lhe tocou o ofício de apascentar porcos, o que significa a servidão mais extrema e imunda que costuma alegrar os demônios: não foi por acaso que o Senhor, quando expulsou a legião dos demônios, permitiu que entrassem nos porcos.
Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar; alimento digno para porcos, mas não para homens: próprias para dar aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.
Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem se tinha submetido. Reparai no que diz o Evangelho: "Entrando em si..."; primeiramente, voltou-se para si e só assim pôde voltar para o pai. Dizia talvez: "O meu coração me abandonou (isto é: saí de mim mesmo)" (Sl 40,13) ; daí que fosse necessário, antes, voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do Pai. É o que diz a Escritura quando increpa a alguns, dizendo: "Voltai, pecadores, ao coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)" (Is 46,8). Voltando para si mesmo, encontrou-se miserável: "Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e invoquei o nome do Senhor" (Sl 116,3-4). "Quantos empregados, diz ele, há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome!" Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele que fala o Salmo: "Entendeste meus pensamentos de longe" (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o filho tinha em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados". Ele ainda nada tinha dito, só pensava em dizer. O pai, porém, ouvia como se o filho já o estivesse dizendo. Por vezes, em meio a uma tribulação ou tentação, alguém pensa em orar, e, no próprio ato de pensar o que irá dizer a Deus na oração, Deus já o ouvira. Considera que é filho e que, como tal, tem direito a reivindicar a misericórdia do Pai. E diz de si para si: "Direi a meu Deus isto e aquilo; não temo que, em lhe dizendo isto, e chorando, não seja eu atendido pelo meu Deus". Geralmente, Deus já o está atendendo quando ele diz estas coisas; e mesmo antes, quando as cogita, pois mesmo o pensamento não está oculto ao olhar de Deus. Quando o homem delibera orar, já lá está Aquele que lá estará quando ele começar a oração.
E assim se diz em outro Salmo: "Eu disse: confessarei minha iniquidade ao Senhor" (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de algo interior a ele, de um mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: "E tu já perdoaste a impiedade de meu coração" (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de Deus daquele que se confessa! Não, Deus não está longe de quem tem um coração contrito, como está escrito: "Deus está próximo dos que trituram seu coração" (Sl 34,19). E neste triturar seu coração no país da penúria, retornava ao coração para moê-lo. Soberbo, abandonara seu coração; irado com santa indignação, a ele retorna.
Indignou-se contra si mesmo, contra o mal que há em si, para se emendar; retornou para merecer o bem do Pai. Indignou-se conforme a sentença: "Irai-vos para não pecar" (Sl 4,5). Pois quem está arrependido fica irado e, por estar indignado consigo mesmo, se pune.
Daí surgem aquelas práticas próprias do penitente que verdadeiramente se arrepende, verdadeiramente se dói, sente ira contra si mesmo. Certamente, é indício dessa ira o bater no peito: o que a mão faz externamente, a consciência o faz internamente: golpeia-se nos pensamentos, ou melhor, produz a morte em si mesmo. E, matando-se, oferece a Deus o "sacrifício de um espírito atribulado. Deus não despreza um coração contrito e humilhado" (Sl 51,19). E, assim, raspando, quebrando, humilhando seu coração, leva-o à morte.
Embora tivesse ainda somente a disposição de falar ao pai, cogitando em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei...", o pai, que de longe já conhece essas cogitações, foi ao seu encontro.
Que significa "ir ao encontro" senão antecipar-se pela misericórdia? Pois, "estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro". Por que foi movido pela misericórdia? Porque o filho tinha confessado sua miséria. "E correndo-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço", isto é, pôs o braço sobre o pescoço dele.
Ora, o braço do Pai é o Filho: deu-lhe, portanto, Cristo para carregar: uma carga que não pesa, mas alivia. "Meu jugo é suave, diz Cristo, e meu fardo é leve" (Mt 11,30). Ele se apoiava sobre o que estava de pé e, por apoiar-se, impedia-o de tornar a cair. Tão leve é o fardo de Cristo que não só não pesa, mas, pelo contrário, até ergue.
Não que o fardo de Cristo seja uma carga dessas que se chamam leves (não há carga, por mais leve que seja, que não tenha algum peso). Pode-se carregar um fardo pesado, um fardo leve ou, ainda, não carregar fardo algum. Anda oprimido quem carrega fardo pesado; menos oprimido quem leva uma carga leve (embora também ande oprimido); com os ombros totalmente desembaraçados, quem não carrega fardo algum. Não é dessa ordem o fardo de Cristo, mas um fardo tal que convém carregá-lo para sentir-se aliviado; se nos desvencilharmos dele, mais carregados nos sentiremos.
E que esta nossa afirmação, irmãos, não vos pareça absurda! Talvez encontremos alguma comparação que vos torne plausível, até em termos de nossa experiência sensível, o que estou dizendo. Um caso, também ele, espantoso e totalmente incrível.
É o seguinte: considerai as aves. Toda ave carrega o peso de suas asas: não reparastes como, quando descem ao chão, recolhem as asas para poder descansar e como que as levam nas costas? Julgais que estão oprimidas pelo peso das asas? Tirai-lhe este peso e cairão: quanto menos pesarem as asas, menos pode a ave voar.
Alguém que, a título de misericórdia, as privasse deste peso, não estaria sendo misericordioso. A verdadeira misericórdia está em poupar-lhes esta privação e, se já perderam as asas, em dar-lhes alimento para que readquiram asas pesadas e possam arrancar-se da terra e voar. É bem este peso que desejava o salmista: "Quem me dará asas como as da pomba para que eu voe e encontre meu repouso?" (Sl 55,7)
Assim, o peso do braço do pai sobre o pescoço do filho não o carregou, mas o aliviou; foi-lhe honroso e não oneroso . Como é, pois, o homem capaz de carregar consigo a Deus se não é porque o está carregando, o Deus que ele carrega?. E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe deem uma veste: esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe deem um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos os pés dos que anunciam a boa novaEstas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados? Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons.
Mandou também matar o bezerro cevado, isto é, que fosse admitido à mesa em que o alimento é Cristo morto. Mata-se o bezerro para todo aquele que, de longe, vem para a Igreja, na qual se prega a morte de Cristo e no Seu corpo o que vem é admitido. Mata-se o bezerro cevado porque o que se tinha perdido foi encontrado. "O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar o bezerro cevado, porque o reencontrou são e salvo. Encolerizou-se ele e não queria entrar; mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito, para festejar com os meus amigos. E agora que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo! Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu; convinha, porém, fazermos festa, pois que este teu irmão estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado."

Pe. Antonio Gouveia