sábado, 4 de junho de 2016

JESUS SENHOR DA VIDA.

  São Lucas nos conta, no decimo domingo do tempo comum, que certa vez Jesus realizou um grande milagre (Lc-7,11-17) "A ressurreição do filho de uma viúva". Jesus com seus discípulos, e uma grande multidão se aproximavam de uma cidade chamada Naim, ao chegarem na porta da cidade se deparam com um cortejo fúnebre uma procissão da morte; tratava-se de uma viúva que ia enterrar seu filho único.    Esta viúva representa todas a humanidade sem Deus, totalmente possuída por tristeza, dor, despidas de esperança, luz, vestem o luto resultante da morte que a cada dia, consome as pessoas, matando nelas a fé, alegria, amor,.... resta a cada dia enterrarem seus mortos, cresce a triste procissão fúnebre, pois falta vida. uma grande multidão seguia a viúva, deambulavam, mortos vivos, espectros que já sem saída rumavam para o cemitério.
  O filho único que seria sepultado é o verdadeiro simbolismo de uma humanidade, que produz morte, como: aborto, guerras, fome, corrupção política, abuso de poder, misérias, destruição da natureza... Ao passo que a procissão fúnebre deixa a cidade de Naim, se depara com outra procissão: a da vida, conduzida por Jesus e seus discípulos e a multidão que o seguia, o povo que seguia Jesus, caminhava com segurança, rumo a vida. Vendo a procissão fúnebre, Cristo se comove com a situação de morte, sente compaixão da viúva, que vai enterrar seu filho único. Dirigindo-se à mesma, Jesus a consola, "Não chores!". A vida latente em Jesus, torna-se esperança, é a própria ressurreição oferecida ao mundo. Aqueles que carregavam o caixão, param diante de Jesus, e seus discípulos.
  Somente Jesus tem poder de impedir a morte, seus efeitos. A expectativa, os olhares assustados, o medo misturado com tristeza e dor, são tomados por um facho de luz e esperança que passa a brilhar no luto dos desvalidos, de todos aqueles que caminhavam para o cemitério. A voz de Jesus gera vida, anula a morte. O silêncio é quebrado quando Jesus se dirige ao caixão, "Jovem, eu te ordeno, levanta-te!", esta ordem sobrenatural é direcionada ao jovem morto.
  Podemos entender na palavra, jovem, o princípio da vida, seu começo, que deve ser edificada na palavra de Deus, única base, lastro, chão, alicerce da vida. O jovem voltou a viver, começou a falar, dando à todos provas de que a palavra de Deus visível em Jesus, pode destruir a morte, devolver vida para todos que se encontram em situação de morte, o filho vivo é entregue à sua mãe, o caminho não é mais o do cemitério. A mãe, é compreendida como a humanidade que agora passa agir na força vivificadora de Jesus, que forma, criar, gera, nutre filhos destinados à eternidade, nova humanidade renascida, vivificada, em Jesus verbo de Deus habitando no nosso meio. Todos que presenciaram a ressurreição do filho da viúva, foram tomados por um grande medo, aos poucos foram deixando o temor, adquirindo confiança, com alegria, glorificavam a Deus dizendo: "Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo".
Ao visitar a cidade de Naim, Deus transparecendo em Jesus, visita toda humanidade, cada pessoa, eu, você, que formamos a Igreja, povo de Deus rumo a uma nova caminhada, aquela conduzida por Jesus.
  A notícia desse milagre correu em toda Judeia e arredores, todos certamente cantaram, "Eu vos exalto ó Senhor, pois me livrastes e preservastes minha vida da morte" (Sl 29). Na segunda leitura Paulo também é um ressuscitado que saboreando a doçura da palavra de Deus ingressa no caminho dos seguidores de Jesus, deixa de servir a morte como quando era um perseguidor da Igreja de Deus, convertido encontra vida, entra na vida, gera vida. Devemos assumir também todos nós o caminhar pleno com Jesus. Saiamos da morte para a vida!.






Pe. Antônio Gouveia

quinta-feira, 12 de maio de 2016

FLOR DE ETERNO PERFUME


Queridos irmãos e irmãs:

 Maio é um mês querido e agraciado por diversos aspectos. Em nosso hemisfério, a primavera chega com muitas e multicoloridas floradas; o clima é favorável aos passeios e às viagens. Para a Liturgia, maio sempre pertence ao tempo da Páscoa, o tempo do "aleluia", da revelação do mistério de Cristo à luz de Ressurreição e da fé pascal: e é o tempo da espera do Espírito Santo que desceu com poder sobre a Igreja nascente em Pentecostes. A ambos os contextos, o "natural" e o litúrgico, se combina bem à tradição da Igreja de dedicar o mês de maio à Virgem Maria. Ela é, realmente, a mais bela flor surgida da criação, a "rosa" aparecida na plenitude do tempo, quando Deus, enviando Seu Filho, entregou ao mundo uma nova primavera. E é ao mesmo tempo a personagem principal, humilde e discreta, dos primeiros passos da comunidade cristã: Maria é seu coração espiritual, porque sua própria presença entre os discípulos é memória viva do Senhor Jesus e presente do dom de seu Espírito.
 O Evangelho tomado do capítulo 14 de São João, nos oferece um retrato espiritual implícito da Virgem Maria, quando Jesus diz: "Aquele que me ama, manterá minha Palavra e meu Pai o amará e viremos a ele e nele faremos nossa morada" (Jo 14,23). Estas expressões se dirigem aos discípulos, mas podem ser aplicadas em grau máximo Àquela que é a primeira e perfeita discípula de Jesus. Na realidade, Maria observou primeira e completamente a palavra de seu Filho, demonstrando, assim, que não só a amava como mãe, mas antes de tudo como sua serva humilde e obediente; por isso, Deus Pai a amou e a habitou na Santíssima Trindade. E depois, quando Jesus promete a seus amigos que o Espírito Santo os assistirá, ajudando-os a se lembrarem de cada uma de suas palavras e a entendê-las profundamente (Jo 14,26), como não pensar em Maria, que sem seu coração, templo do Espírito, meditava e interpretava tudo aquilo que seu Filho dizia e fazia? Deste modo, já antes e, principalmente, depois da Páscoa, a Mãe de Jesus também se transformou na Mãe e no modelo da Igreja.

Papa Bento XVI 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

SANTOS E SANTAS DOUTORES, DOUTORAS DA IGREJA

O Papa Francisco proclamou, na Cidade do Vaticano, em 11 abril de 2015 um domingo o titulo doutor da Igreja, à São Gregório de Narek místico armênio. (950-1005) é 36.º ‘doutor’ da Igreja Católica. Um santo doutor é alguém reconhecido pela Igreja como exemplo de “santidade de vida, ortodoxia doutrinal e ciência sagrada”. Entre os inúmeros santos modelos autênticos de fé, trinta e seis receberam postumamente o títulos de doutores entre essa nobilissimada constelação de eleitos figuram quatro santas mulheres.
Elenco completo.
01. S. Atanásio – (295 -373), bispo, Alexandria
02. S. Efrém – (306 – 373), diácono, Síria
03. S. Hilário de Poitiers – (310 – 367) – bispo, França
04. S. Cirilo de Jerusalém – (315 – 386) – bispo
05. S. Basílio Magno (330 – 369) – bispo, Itália
06. S. Gregório Nazianzeno – (330 – 379), bispo, Turquia
07. S. Ambrósio – (340 – 397), bispo, Itália
08. S. Jerônimo ( 348 – 420), presbítero, Itália
09. S. João Crisóstomo – (349 – 407), bispo, Constantinopla
10. S. Agostinho – (354 – 430), bispo – África
11. S. Cirilo de Alexandria – (370 – 442), bispo
12. S. Pedro Crisólogo – (380 – 451), bispo, Itália
13. S. Leão Magno – (400 – 461), papa, Toscana, Itália
14. S. Gregório Magno – (540 – 604), papa, Itália
15. S. Isidoro – (560 – 636), bispo, Sevilha, Espanha
16. S. João Damasceno  (650 749), sacerdote, Constantinopla
17. S. Beda Venerável – (672 – 735), Newcastle, Inglaterra
18. S. Pedro Damião – ( 1007 – 1072), bispo, Itália
19. S. Anselmo – (1033 – 1109), bispo, Inglaterra
20. S. Bernardo (1090 – 1153), abade – Dijon, França
21. S. Antonio de Pádua – (1195 – 1231), sacerdote, Portugal
22. S. Alberto Magno – ( 1206 – 1280), bispo, Alemanha
23. S. Boaventura – ( 1218 – 1274 ), bispo, Itália
24. S. Tomás de Aquino – (1225 – 1274), sacerdote, Itália
25. S. Catarina de Sena – (1347 – 1380), virgem, Sena , Itália
26. S. Teresa de Ávila – (1515 – 1582) , virgem, Espanha
27. S. Pedro Canísio – (1521 – 1597), presbítero, Itália
28. S. João da Cruz – (1542 – 1591), presbítero, Espanha
29. S. Roberto Belarmino – (1542 – 1621), Itália
30. S. Lourenço de Brindes – (1559 – 1619), Itália
31. S. Francisco de Sales – (1567 – 1655), bispo, França
32. S. Afonso de Ligório – (1696 – 1787), bispo, Itália
33. S. Teresa de Lisieux – (1873 – 1897) , virgem, França

34. Santa Hildegarda- (1098-1179), Alemanha
35. São João D' ávida- (1499-1569), Espanha

sábado, 30 de abril de 2016

SOBRE O DINHEIRO


O dinheiro pode comprar uma casa mas não um lar. Pode comprar uma cama mas não o sono. Pode comprar um relógio mas não o tempo. Pode comprar um livro mas não o conhecimento e a sabedoria. Pode comprar uma posição mas não o respeito. Pode pagar o médico mas não a saúde. Pode comprar o sexo mas não o amor.
São 365 afirmações, uma para cada dia do ano, todas dedicadas aos "Segredos da riqueza" isto é, à relação do ser humano com os bens materiais. O número tão variado de autores faz compreender que estamos na presença de um tema universal, constante que apaixona precisamente porque nunca está fechado.
Com efeito, os muitos apelos contra a loucura da acumulação, a idolatria do dinheiro, sobre o verdadeiro fim da vida, não impedem que se continuem a amontoar riquezas, a matar pelas coisas, a trair ideais e valores por um punhado de moedas.
O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1902) disse: "O dinheiro pode comprar a pele de muitas coisas mas não a semente. Pode dar-vos o alimento mas não o apetite, a medicina mas não a saúde, os entendidos mas não os amigos, os servidores mas não a fidelidade, dias de alegria mas não a felicidade e a paz".
E todavia nós continuamos a andar em direção àquela ilusão dourada, incapazes de reagir às tentações daquele fogo, ao fascínio daquela promessa de bem-estar.


P. [Card.] Gianfranco Ravasi

sexta-feira, 29 de abril de 2016

HOMEM DA IGREJA V

 Luca Bartolomeo de Pacioli, OFM (1445-1517) Frade Menor da Ordem de S. Francisco. Célebre matemático italiano é reconhecido como pai da Contabilidade. Foi famoso professor universitário. Em Milão escreveu a “De Divina Proportione”, trabalho que foi ilustrado por Leonardo da Vinci. No ano de 1494 foi publicado em Veneza sua famosa obra “Summa de Arithmetica, Geometria proporção e proporcionalidade” (colecção de conhecimentos de aritmética, geometria, proporção e proporcionalidade). Pacioli tornou-se famoso devido a um capítulo deste livro que tratava sobre contabilidade: “Particulario de computies et scripturis”. Nesta seção do livro, Pacioli foi o primeiro a descrever a contabilidade de dupla entrada, conhecido como método veneziano ("el modo de Vinegia") ou ainda "método das partidas dobradas".
Por ser seu valor um número irracional raiz quadrada de cinco menos um, dividido por dois, igual a 0.6180339, conhecido em matemática como “divisão de um segmento em média e extrema razão”, o que resolve importantes problemas de construções geométricas.
 Paccioli ainda extraiu treze consequências do princípio matemático em honra de Cristo e seus doze Apóstolos. Com relação ao código da “divina proporção”, descoberto por Pacioli, recentemente, à custa da ilustrada ignorância e irrracionalidade contemporâneas, o escritor gnóstico ficcionista Dan Brown lucrou enorme fortuna com seu livro “Código da Vinci”.

Pe. Antonio Gouvea

segunda-feira, 25 de abril de 2016

HOMENS DA IGREJA VI




Padre Roberto Landel de Moura (1861 - 1928) Sacerdote católico brasileiro, é conhecido pelo seu pioneirismo na ciência da telecomunicação. Desenvolveu uma série de pesquisas, experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem ao telefone e ao rádio, senão o primeiro de todos.
Vários testemunhos afirmam sua realização de testes bem sucedidos em ambas as modalidades de transmissão desde 1893 ou 1894. Em 1901 conseguiu uma patente brasileira para um aparelho de transmissão de som à distância com ou sem fio, em 1904 obteve três patentes norte-americanas para outros aparelhos.
Foi reconhecido pela imprensa dos Estados Unidos como o inventor do telefone sem fio, caindo depois em um período de obscuridade. Também deixou projetos que apontam seu pioneirismo na transmissão de imagens sem fio, sendo considerado nacionalmente um precursor da televisão e das fibras ópticas.
É cidadão honorário da cidade de São Paulo, patrono da Ciência, da Tecnologia e da Inovação do município de Porto Alegre, patrono dos radioamadores brasileiros, seu nome foi inscrito em 2012 no Livro dos Heróis da Pátria, através da Lei nº 12.614, sancionada pela Presidência da República. Sua carreira sacerdotal se consolidou na Igreja no final de sua vida, sendo designado sucessivamente vigário-geral da Arquidiocese de Porto Alegre, cônego penitenciário do Cabido Metropolitano, monsenhor e arcediago, responsável também pela paróquia do Menino Deus, e paróquia do Rosário, em cuja igreja hoje estão depositados seus despojos.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

HOMENS DA IGREJA IV

 São Boaventura, OFM (1221-1274) Frade Menor da Ordem de S. Francisco. Doutor da Igreja. Teólogo, filósofo escolástico medieval nascido na Itália no século XIII. Sétimo ministro geral da Ordem dos Frades Menores, foi cardeal bispo de Albano. “Homem bom, afável, piedoso e misericordioso, repleto de virtudes, amado por Deus e pelos homens (…). Deus, de fato, havia lhe dado tal graça, que todos aqueles que o viam eram invadidos por um amor que o coração não podia ocultar” (cf. J.G. Bougerol, Bonaventura, en A. Vauchez (vv.aa.) 
 Foi herdeiro de São Francisco e Santo Agostinho, seu mestre preferido, também de Santo Anselmo e São Bernardo. Sua teologia é marcada pela tentativa de integrar completamente a fé e a razão.
 Postulava que Cristo é o “único mestre verdadeiro” que oferece à humanidade conhecimentos que nascem da fé, se desenvolvem através de uma compreensão racional e tornam-se perfeitos pela união mística com Deus.
 Seus escritos abrangem quase todos os assuntos acadêmicos de sua época, suas obras são numerosas, tratando, em sua maioria, de filosofia e teologia. O pensamento filosófico de Boaventura revela considerável influência de Santo Agostinho, é tido como melhor representante do agostinianismo.
 Boaventura foi canonizado em 14 de abril de 1482 pelo papa Sisto IV e declarado Doutor da Igreja em 1588 pelo papa Sisto V como "Doutor Seráfico"

Pe. Antonio Gouveia

terça-feira, 19 de abril de 2016

HOMENS DA IGREJA III

 Alberto Magno, OP (1200-1280) Frade alemão da Ordem de S. Domingos, filósofo, escritor, teólogo. Grande gênio enciclopédico, movia-se magistralmente com grande segurança nos mais diferentes campos do conhecimento humano, convivendo em perfeita harmonia entre as razões da ciência e fé.
Alberto estudou principalmente na Universidade de Pádua, onde conheceu as obras de Aristóteles. Um relato posterior de Rudolph de Novamagia conta que Alberto teria tido uma visão da Virgem Maria que o convenceu aceitar o hábito de sacerdote. 
 Em 1223 (ou 1229) entrou para a Ordem dos Pregadores contra vontade da sua família. Estudou teologia na Universidade de Bolonha. Selecionado para preencher uma cadeira de professor em Colonia onde havia um mosteiro dominicano, Alberto ensinou durante muitos anos na região, principalmente Regensburgo, Friburgo, Estrasburgo e Hildesheim. Durante seu primeiro mandato em Colônia, escreveu sua Summa de Bono depois de discutir com Filipe, o Chanceler, sobre as propriedades transcendentais do ser.  Ele foi o primeiro a comentar sobre praticamente todas as obras de Aristóteles, tornando-as acessíveis para o debate acadêmico mais amplo.
 O estudo de Aristóteles levou-o a conhecer e comentar também sobre os ensinamentos dos estudiosos muçulmanos, principalmente Avicena e Averróis, o que o colocou no centro do debate acadêmico.
 Consta que ele rezava sempre: “Senhor Jesus, invocamos a tua ajuda para não nos deixarmos seduzir pelas vãs palavras tentadoras sobre a nobreza da família, sobre o prestígio da instituição, sobre o que a ciência tem de atraente”. Foi o primeiro a comentar sobre as obras de Aristóteles, tornando-as acessíveis para o debate acadêmico.
 Sua obra consiste de trinta e oito volumes, e demonstra não só sua prolificidade como também seu conhecimento enciclopédico variado que abrange lógica, teologia, botânica, geografia, astronomia, astrologia, mineralogia, alquimia, zoologia, frenologia, direito, além de tratados sobre justiça, amizade e amor.
 Já com setenta anos, foi incumbido pelo papa Urbano IV de liderar as cruzadas na Alemanha e na Boêmia. Em 1274, teve participação decisiva na união da Igreja grega com a latina, no segundo Concílio de Lyon Três anos antes de sua morte, Alberto Magno começou a perder a memória. Mandou, então, construir sua própria sepultura, rezava o ofício dos mortos todos os dias.
 Morreu, serenamente, no dia 15 de novembro de 1280. Só foi beatificado em 1622, embora houvesse um considerável aumento da devoção a ele, na Alemanha, a canonização não se efetivou logo. Em 1872, novamente em 1927, os bispos alemães pediram à Santa Sé sua canonização, sem resultado aparente. Mas o papa Pio XI, através de uma carta decretal, canonizou-o proclamando-o doutor da Igreja em 1931. Dez anos depois, o papa Pio XII  o declarou padroeiro dos estudiosos das ciências naturais.

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 16 de abril de 2016

HOMENS DE IGREJA II

Pedro Abelardo (1079-1142) lustre filósofo escolástico francês, teólogo e grande lógico. É considerado um dos maiores e mais ousados pensadores do século XII. Ensinou na Catedral Escola de Paris. O homem medieval entendia o pensamento como mola propulsora para “o conhecimento das coisas divinas”. A obra principal de Abelardo, chamada “Dialética”, foi inspirada no pensamento de Boécio e tornou-se a obra de lógica mais influente até o final do século XIII em Roma, onde foi usada como manual escolar. A lógica era ministrada como parte do trivium, e seu trabalho forneceu aos estudantes os argumentos e armas para às disputas metafísicas e teológicas.
 Embora diretamente tenha conhecido pouco da obra de Aristóteles, foi na linha desse filósofo grego que se situou o pensamento de Abelardo, apesar da marcante influência também recebida de Santo Agostinho. A obra de Abelardo influenciou, em muitos pontos, a elaboração, da Suma Teológica, de Thomas de Aquino, obra que iria realizar, no século seguinte, a síntese da dogmática cristã com a filosofia aristotélica. Abelardo procurou abrir novos caminhos em todos os campos que abordou. Exerceu larga influência entre seus contemporâneos antecipou, segundo seus intérpretes, o racionalismo que iria irromper, com grande força, no início da Idade Moderna.

Pe. Antonio Gouveia

SANTO ANCELMO DE CANTUÁRIA

HOMENS DA IGREJA   I

Santo Anselmo de Cantuária, (OSB (1093 e 1109) Abade da Ordem de S. Bento e arcebispo italiano foi chamado o pai da Escolástica. (método de pensamento critico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500). No século XI a Idade Média atingia seu período mais fecundo com a expansão do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo através do Catolicismo. Chegava-se ao término definitivo das invasões bárbaras e a cultura resgatada com os esforços de Carlos Magno alcançava seu apogeu.
 Inspirado por Santo Agostinho, Anselmo seguia o seu “credo ut intelligam”, ou “creio para entender”. Toda a fase inicial da Escolástica será permeada com essa premissa de que o homem só é capaz de apreender as coisas quando assistido pela fé. Nessa época nada tem sentido sem, antes, partir da fé, do conhecimento superior, do divino, que é o que dá segurança às investigações filosóficas. Anselmo, exerceu enorme influência sobre a teologia ocidental, consagrando-se principalmente por ter criado o argumento ontológico para a existência de Deus e a visão da satisfação sobre a teoria da expiação.

Pe. Antonio Gouveia

quinta-feira, 14 de abril de 2016

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO SOBRE PERSEGUIÇÃO

“A perseguição é o pão cotidiano da Igreja”. Homilia da Missa celebrada na manhã de terça-feira, (12/04), na capela da Casa Santa Marta.

Assim como aconteceu com Estêvão, o primeiro mártir, ou com os “pequenos mártires” assassinados por Herodes, também hoje, afirmou o Papa: muitos cristãos são mortos por causa da sua fé em Cristo e outros ainda são perseguidos “educadamente” porque querem manifestar o valor de serem “filhos de Deus”.
                 Francisco falou de dois tipos de perseguição:
  • Aquelas sangrentas, com seres dilacerados por animais selvagens para a alegria do público.ou que explodem por uma bomba na saída da Missa. 
  • E perseguições com “luvas brancas”, disfarçadas “de cultura”, que confinam num ângulo da sociedade, que fazem perder o trabalho, por não se adequar a leis que “vão contra Deus Criador”
A narração do martírio de Estêvão, descrito no texto dos Atos dos Apóstolos proposto pela liturgia, leva o Papa a considerações sobre uma realidade que há 2 mil anos é uma história dentro da história da fé cristã: a perseguição. “A perseguição, eu diria, é o pão quotidiano da Igreja".
 Jesus o disse. Nós, quando fazemos um pouco de turismo por Roma e visitamos o Coliseu, pensamos que os mártires eram aqueles mortos com os leões. Mas os mártires não foram somente aqueles ali ou outros. São homens e mulheres de todos os dias: hoje, no dia de Páscoa, somente três semanas atrás… aqueles cristãos que festejavam a Páscoa no Paquistão (na cidade de Lahore, Paquistão um atentado de autoria muçulmana, 72 pessoas morreram, mais de 300 feridos o fato se deu dia 27/03/2016) foram martirizados justamente porque festejavam o Cristo Ressuscitado. E assim a história da Igreja vai avante com os seus mártires”.
 O martírio de Estêvão provocou uma cruel perseguição anticristã em Jerusalém, análoga às que sofrem os que hoje não são livres de professar a sua fé em Jesus. “Mas – observa Francisco – existe outra perseguição, da qual não se fala muito: a perseguição mascarada de cultura, de modernidade, de progresso”“É uma perseguição – diria com um pouco de ironia – ‘educada’. É quando o homem não é perseguido por confessar o nome de Cristo, mas porque quer ter e manifestar os valores do Filho de Deus.
 É uma perseguição contra Deus Criador na pessoa dos seus filhos! E assim, vemos todos os dias que as potências fazem leis que obrigam a seguir este caminho e a nação que não respeita estas leis modernas, cultas, ou que não quer tê-las em sua legislação, é acusada, perseguida educadamente. É a perseguição que tira do homem a liberdade, inclusive de objectar com a consciência!”. “Esta é a perseguição do mundo que tira a liberdade”, enquanto “Deus nos fez livres de dar testemunho do Pai que nos criou e de Cristo que nos salvou”, disse o Papa, acrescentando que “esta perseguição tem até um líder”: “O líder da perseguição ‘educada", Jesus o nomeou: é o príncipe deste mundo. 
 Quando as potências querem impor comportamentos e leis contra a dignidade do Filho de Deus, perseguem-no e vão contra o Deus Criador. É a grande apostasia. Assim, a vida dos cristãos vai avante, com estas duas perseguições. O Senhor nos prometeu que não se afastará de nós. “Estejam atentos, atenção!” Não caiam no espírito do mundo. Estejam atentos, mas prossigam, Eu estarei convosco!”.

Pe. Antonio Gouveia

terça-feira, 12 de abril de 2016

HOMILIA DO BEATO FRANCISCO PALAU - SOBRE A ORAÇÃO

 "Deus em sua providência, dispôs não remediar nossos males, nem nos conceder suas graças, senão mediante a oração, pela oração de uns, sejam salvos outros. (cf. Tg 5,16ss). Se os céus enviaram seu orvalho as nuvens choveram o Justo, abriu-se a terra e brotou o Salvador (cf. Is 45, 8), quis Deus que, à sua vinda, precedessem os clamores e súplicas dos santos profetas, particularmente as súplicas daquela Virgem singular que conquistou os céus com a fragrância de suas virtudes e atraiu a seu seio o Verbo incriado.
 O Redentor veio por meio de uma oração contínua reconciliou o mundo com seu Pai. Para que a oração de Jesus Cristo e os frutos da sua redenção se apliquem a alguma nação ou povo, para que haja quem o ilumine com a pregação do Evangelho lhe administre os sacramentos, é indispensável que haja alguém ou muitos, com gemidos, súplicas, com orações e sacrifícios, tenha antes conquistado aquele povo e o tenha reconciliado com Deus.
 A isto, entre outros fins, se dirigem os sacrifícios que oferecidos em nossos altares. A Hóstia Santa que apresentamos todos os dias ao Pai, acompanhada de nossas súplicas, não é só para renovar a memória da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, é também, para clamar com ela o Deus de bondade que se digne aplicar a redenção de seu Filho à nação, província, cidade, aldeia, àquela ou àquelas pessoas por quem se celebra a santa missa.
 Nela é onde propriamente se roga a redenção com o Pai, ou seja, conversão das nações. Antes que a redenção se aplicasse ao mundo, ou, antes que o estandarte da cruz fosse hasteado nas nações, o Pai dispôs que seu Unigênito, feito carne, o redimisse com "súplicas contínuas, com veemente clamor e lágrimas" (Hb 5,7), com angústia de morte com derramamento de todo o seu sangue, especialmente no altar da cruz, que levantou sobre o Calvário.
Deus, para conceder sua graça ainda àqueles que não a pedem nem podem ou não querem pedi-la, dispôs e ordenou: "Orai uns pelos outros para que sejam salvos" (Tg 5, 16ss). Se Deus deu a graça da conversão à Santo Agostinho, foi devido às lágrimas de Santa Mônica, e a Igreja não teria São Paulo, diz um santo Padre, se não fosse a oração de Santo Estevão. E é digno de notar-se aqui que os apóstolos, enviados a pregar, ensinar todas as nações, reconhecem que o fruto de sua pregação era efeito, de sua oração mais que de sua palavra. Quando, na escolha dos sete diáconos para que se encarregassem das obras externas de caridade, dizem: "Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da palavra" (At 6,4). Reparem bem, dizem que se aplicarão primeiro à oração, só depois desta ao ministério da palavra, porque sem dúvida, nunca irão converter um povo sem que antes na oração tivessem conseguido que se convertessem. Jesus Cristo empregou toda sua vida em orar e só três anos para pregar!.
 Assim como Deus não concede suas graças aos homens senão mediante oração, porque deseja que o reconheçamos como fonte de onde emana todo bem, assim também não nos quer salvar dos perigos, nem curar-nos as chagas, nem consolar-nos nas aflições senão mediante a mesma oração.

Pe. Antonio Gouveia


sábado, 9 de abril de 2016

PURGATÓRIO, SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANEY

O Purgatório
Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus.
Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem. Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda ternura todo amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra.
Eu venho pra dizer, que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras.
Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: "Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga-lhes que desde que nós fomos separados deles, temos estado queimando em chamas! Oh! Quem poderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando! "Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: "Livrai-nos dessa dor, você pode!" Considerem então meus caros amigos: A magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório, os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações, acima de tudo, o santo sacrifício da Missa.
Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu é guiada no Espírito Santo conseqüentemente, não pode se enganar nem nos enganar mas ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. 
Isto é uma certeza, lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles.
Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram claramente, que embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório. Veja o que aconteceu com Adão: Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado, mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência.
Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar: "maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar..." (Gênesis 3, 17).
Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, se fizesse o recenseamento de Israel: Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Conseqüentemente, tocado pelo seu arrependimento, Deus o perdoou.
Mas apesar disso, ele enviou Gaad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: "Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem..." (I Crônicas 21). Ele escolheu a peste, esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo o mal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. 
Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações? Meus caros irmãos, que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados, sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências, nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida? Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno.
Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e ela falasse dos sofrimentos que está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos, soluços, talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações?
Esta pobre alma nos diria: "Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!. Sofrer dores incompreensíveis para mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... Oh! Meus filhos! gritam os pais, mães como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto os amamos quando estávamos na terra! Como vocês podem ir dormir tranquilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês têm coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis por tantos anos!... E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões, vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!..." Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de "leve" algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador?.
E para nós que cometemos tantos pecados mortais praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! Meu Deus! disse Santa Tereza de Ávila: "que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?" Em sua última doença, ela de repente gritou: "Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!"
Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando:
"Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!" Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações? Sim minhas filhas respondeu Tereza- eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior! Seria então, o julgamento? Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principalmente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. Madre, seria por acaso o Inferno? Não respondeu ela O inferno, Graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado! Ai de nós! gritaram as pobres irmãs - O que será então no dia das nossas mortes? O que será então de nós, meus caros irmãos?
Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos, séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas "pequenas falhas" que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas "pequenas mentirinhas" que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja Deus o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.
Meus irmãos, Deus é justo em tudo que faz. Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. 
Isto é verdade absoluta comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório. São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas!.Um sacerdote contou a um amigos que Deus o havia condenado permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas dar esmolas e simplesmente fazemos-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas obras que vocês deixaram de fazer enquanto estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer própria salvação!
Você talvez me dirá: Nossos pais eram pessoas, boas honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas! Ah! Se vocês soubessem que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito: Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório. São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um amigo muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã.
Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas! Traduzido do francês por Gercione Lima (Toronto-Canada)

Pe. Antonio Gouveia 

terça-feira, 5 de abril de 2016

RESPONDES Ó VIRGEM E MUDAS NOSSO DESTINO.

Das Homilias de São Bernardo, abade, em louvor da Virgem Mãe (Hom. 4, 8-9: Opera Omnia, Edt. Cisterc. 4(1966), 53-54)
   Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar á luz um filho: não de homem, tu ouviste, mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar a Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos uma palavra de misericórdia. E eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Fomos todos criados no Verbo eterno de Deus, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida. Ó virgem cheia de bondade, o triste Adão, expulso do paraíso com a sua pobre descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região das sombras da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prosternado a teus pés.
  E não é razão!, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, libertação dos condenados, a salvação enfim de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça. Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor pelo Anjo. Responde uma palavra, acolhe a Palavra; pronuncia a tua palavra e concede a Palavra de Deus; profere uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna. Por que tardas? Por que hesitas? Crê, fala conforme a tua fé e acolhe.
 Que tua humilde se revista de audácia, tua modéstia de confiança. De nenhum modo convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessária é agora tua virtude nas palavras.
 Abre, ó Virgem santa, teu coração a fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate á tua porta. Ah! Se, enquanto tardas, ele passa adiante e começas de novo a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. “Eis aqui”, diz a Virgem, “a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 2 de abril de 2016

REACENDAMOS NOSSA FE.

 A gloriosa ressurreição de Jesus reacende a fé do povo cristão, por isso a Igreja celebra, vive, exulta este tempo de graça onde o amor venceu a morte. Redimidos no Sangue do Cordeiro vivemos na esperança, reacendendo a nossa fé.
 O segundo domingo da Pascoa é o espaço para glorificarmos Deus, em Jesus seu Filho amado nosso Salvador. Em atos dos Apóstolos -5,12-16- a comunidade vive as maravilhas desse acontecimento, os fieis crescem, as multidões trazem os doentes para serem curados, queriam que ao menos a sombra de São Pedro tocasse os doentes, tamanha era a fé.     O salmo 117 é propicio para celebrar tal acontecimento o seu refrão é significativo "Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom! "Eterna é sua misericórdia!" se tal acontecimento é e foi celebrado na terra o céu também testemunha, na segunda leitura do livro de Apocalipse 1,9-11... São João descreve o seu arrebatamento, nele acontece uma esplendida visão "O filho do Homem (Jesus) vestido com uma túnica comprida e com uma faixa de ouro em volta do peito..... Eu sou o alfa e o Omega, aquele que vive. Estive morto, mas agora vivo para sempre"
  O que é celebrado pela comunidade na primeira leitura e testemunhado por São João na segunda leitura é também celebrado com os filhos de Deus que formam a Igreja, Una Santa e Católica, é da pascalidade de Jesus que nasce a Igreja.   O evangelho descreve o encontro de Tomé com Jesus Ressuscitado após uma crise de fé, o discípulo é reabilitado em sua alma, a convite do próprio Jesus ele toca no poder de Deus "Estende a tua mão e coloca-a no meu lado" daí em diante Tome é uma nova pessoa. Graças a esse solene momento o mundo ouve o fundamento de fé "Bem aventurados os que crerem sem terem vistos" pela misericórdia do filho de Deus e profundamente amoroso Jesus ressuscitado contagia todos, dando-lhes generosamente a Paz, o sopro da vida na fé "recebei o Espirito santo" transbordando de alegria pascal a Igreja no mundo inteiro e numa unidade de fé celebra com os homens e mulheres na terra, com os anjos e santos no céu, a santa ressurreição do cristo vitima perfeita oferecida aceita por Deus em favor dos pecadores, com sua sobrenatural ressurreição é derramado no mundo a esperança e a paz. Que Deus onipotente conserve em nossa vida os efeitos de uma eterna e santa pascoa.

Pe. Antonio Gouveia

sexta-feira, 25 de março de 2016

CRUZ

A cruz é um sinal produzido pela a humanidade. Não sabemos a sua origem, o fato é que ela se faz presente desde antiquíssimos tempos. Por exemplo, na Índia antiga a cruz significava "boa sorte" para os Egípcios era a "chave da imortalidade". Para o filosofo grego Pitágoras está associada ao numero quatro, ou seja, a ordem do mundo os elementos aguá, ar, terra, fogo, é a junção de duas forças oponentes entre si que se harmonizam em vista de um determinado fim; por exemplo o humano e o divino, o espaço e o tempo, alto e baixo... 
Já para os odiosos e sua mentalidade punitiva, a cruz foi um humilhante objeto de castigo, sofrimento condenação e morte, até que o filho de Deus nosso amado Salvador fosse punido na cruz, o significado muda. Ao aceitar e abraçar a cruz, carregando-a em suas costas, ungindo-a com o seu sangue a mesma é purificada torna-se Sinal Sagrado. Para os impiedosos é e foi loucura, maldição, já para os redimidos é benção "Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é poder de Deus" (1 Cor.-1,18)
O antigo e negativo significado de morte é revestido pela compreensão de vitória, é neste sentido que os cristãos católicos adoram a cruz,  tendo em vista esperança e ressurreição. A cruz de Cristo é a pura e autentica solidariedade de Jesus com o gênero humano é a conquista da luz contra as trevas, é benção e ponte que une o céu e a terra, é o fundamento do discípulo e de todo batizado "Se alguém quiser acompanhar-me,  negue-se a si mesmo tome sua cruz e siga-me." (Mc 8,34).
Adoremos a Santa Cruz, percorramos com ela o caminho que Cristo nos aponta.

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 19 de março de 2016

O REI CHEGOU O SIGAMOS

       A cidade de Jerusalém, foi invadida numa manhã de domingo por um bando de empobrecidos, doentes, camponeses, pecadores, curiosos... eram os desprezados do poder religioso e político, que agitavam ramos, galhos, folhas de arvore, que iam pegando ao longo do caminho. Essa gente que agora sai do anonimato, da periferia, adentra o centro da cidade causando confusão, alarido, gritavam, aclamando aquele que os conduziam: "Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! hosana no mais alto dos céus", todos desse cortejo ouviram falar ou testemunharam Lázaro sendo ressuscitado por Jesus, após quatro dias no túmulo. Por isso o aclamam como rei, queriam um rei para resolver todos os problemas, o mais indicado é Jesus, pois multiplica pães, cura doentes, perdoa pecados ressuscita mortos... só não sabiam que o reinado de Jesus é espiritual, não material, político, "o meu reino não é deste mundo"(Jo-17,15) ficaram surpresos, embravecidos quando viram o Cristo sendo condenado, onde está o poder desse homem? esses mesmos vão gritar mais tarde crucifica-o!
  Surpresa e agitação maior teve a cidade diante de tanta manifestação, assustados perguntavam uns aos outros: quem é esse homem? referiam-se a quem estava sendo o centro daquele movimento, que com poder, determinação, conduzia a multidão, era um homem simples com vestes de pobre montado num jumento, sinal de humildade, verdade. O verdadeiro poder que habita em Jesus não é opulento, arrogante, é inclusivo, amoroso, diferente do poder dos imperadores dos reis e governantes deste mundo.
  Todos os quatros evangelistas descrevem a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. São Mateus mostra Jesus entrando nessa cidade montado num jumento, faz isso para resgatar uma antiga profecia de Zacarias: "Eis que vem a ti o teu rei, ele é justo e trás a salvação; ele é pobre e vem montado sobre um jumento, sobre um potrinho, filho de uma jumenta" 
(Zac. 9,9). A profecia é para falar que o reinado de Jesus é de justiça, salvação, humildade. Em Lucas o povo o proclama Bendito "Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e gloria nas alturas!" Acontecimento de tamanha proporção nunca ocorrera. O trote simples e pequeno do jumento, simboliza, delicadeza, serenidade com que Jesus se aproxima dos seus. Diferente do trote da cavalaria imperial, que ao entrar na cidade provocava medo e repressão, com armas de guerras, estandartes do poder...
  Os que seguiam essa procissão, eram condizidos na expectativa de terem um rei triunfante pois o testemunharam por diversas vezes curando, perdoando pecados, o queriam como rei, para restaurar o que estava corrompido por uma politica podre, exploradora por uma religião da culpa, do ritualismo, do fardo. Encorajados respondiam a todo peito com voz firme: "este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia". Jesus tem plena consciência das dores e exploração, tanto politica como religiosa que o povo sofria, ao conduzi-los deixava claro que tudo pode mudar para melhor, é para a frente que devemos caminhar, a historia se faz passo a passo, temos um longo caminho a percorrer. Jesus entrou na historia humana para nos lembrar da nossa participação no processo de transformação. A força, o poder emana do povo, categoria muita das vezes explorada de forma negativa por poderosos do mal.
  Assim também Jesus quer entrar na vida das pessoas, ele reconhece nossa pobreza espiritual, nossas dificuldades de caminhar, por isso ele passa na frente, quanto a nós, o sigamos com alegria, fé, determinação, percorramos também o dificultoso caminho da vida, muitas das vezes marcados por sofrimento, até morte, mas com fé aguardemos o glorioso dia da ressurreição.
Na liturgia católica esse acontecido marca o começo da Semana Santa, o Kairos de Deus agindo em Jesus, através da santa paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que permeada de humilhação, dor, condenação e morte de cruz, resplandecerá adornada de brilho e luz na manhã da ressurreição, caminhemos pelas estradas da vida, erguendo, agitando nossas esperanças, a passos firmes sigamos a Jesus nosso guia: reze - Jesus eu vos peço, venha caminhar sempre do meu lado sejas minha doce e suave companhia no dia-dia do meu existir, firmai os meus passos, sejas luz na minha consciência, vitalidade no meu espírito, na procissão da minha vida eu quero sempre ser seu seguidor, com os meus irmãos e irmãs o seguirei proclamando seu teu amor para com todos e com tudo.

Pe. Antonio Gouveia.

sexta-feira, 4 de março de 2016

SANTO AGOSTINHO, SOBRE O FILHO PRODIGO

     quarto domingo da quaresma- Lc-15,1-11-32

O homem que tem dois filhos é Deus que tem dois povos: o filho mais velho é o povo judeu; o menor, os gentios. (pecadores)
O patrimônio que este recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para que o conhecêssemos e Lhe déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor "partiu para um país muito distante". Distância significa: o esquecimento de seu Criador. "Dissipou sua herança vivendo dissolutamente": gastando, não ajuntando; perdendo tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade em luxúria, em ídolos, em todo tipo de desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.
Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. "Sobreveio àquela região uma grande fome"; fome não de pão visível mas da verdade invisível. E, por causa da fome, "foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região": entenda-se o diabo, o senhor dos demônios, sob cujo poder caem todos os curiosos, pois a curiosidade é o pestilento abandono da verdade.
À margem de Deus, por entregar-se a seus próprios recursos, foi submetido à servidão e lhe tocou o ofício de apascentar porcos, o que significa a servidão mais extrema e imunda que costuma alegrar os demônios: não foi por acaso que o Senhor, quando expulsou a legião dos demônios, permitiu que entrassem nos porcos.
Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar; alimento digno para porcos, mas não para homens: próprias para dar aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.
Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem se tinha submetido. Reparai no que diz o Evangelho: "Entrando em si..."; primeiramente, voltou-se para si e só assim pôde voltar para o pai. Dizia talvez: "O meu coração me abandonou (isto é: saí de mim mesmo)" (Sl 40,13) ; daí que fosse necessário, antes, voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do Pai. É o que diz a Escritura quando increpa a alguns, dizendo: "Voltai, pecadores, ao coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)" (Is 46,8). Voltando para si mesmo, encontrou-se miserável: "Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e invoquei o nome do Senhor" (Sl 116,3-4). "Quantos empregados, diz ele, há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome!" Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele que fala o Salmo: "Entendeste meus pensamentos de longe" (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o filho tinha em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados". Ele ainda nada tinha dito, só pensava em dizer. O pai, porém, ouvia como se o filho já o estivesse dizendo. Por vezes, em meio a uma tribulação ou tentação, alguém pensa em orar, e, no próprio ato de pensar o que irá dizer a Deus na oração, Deus já o ouvira. Considera que é filho e que, como tal, tem direito a reivindicar a misericórdia do Pai. E diz de si para si: "Direi a meu Deus isto e aquilo; não temo que, em lhe dizendo isto, e chorando, não seja eu atendido pelo meu Deus". Geralmente, Deus já o está atendendo quando ele diz estas coisas; e mesmo antes, quando as cogita, pois mesmo o pensamento não está oculto ao olhar de Deus. Quando o homem delibera orar, já lá está Aquele que lá estará quando ele começar a oração.
E assim se diz em outro Salmo: "Eu disse: confessarei minha iniquidade ao Senhor" (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de algo interior a ele, de um mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: "E tu já perdoaste a impiedade de meu coração" (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de Deus daquele que se confessa! Não, Deus não está longe de quem tem um coração contrito, como está escrito: "Deus está próximo dos que trituram seu coração" (Sl 34,19). E neste triturar seu coração no país da penúria, retornava ao coração para moê-lo. Soberbo, abandonara seu coração; irado com santa indignação, a ele retorna.
Indignou-se contra si mesmo, contra o mal que há em si, para se emendar; retornou para merecer o bem do Pai. Indignou-se conforme a sentença: "Irai-vos para não pecar" (Sl 4,5). Pois quem está arrependido fica irado e, por estar indignado consigo mesmo, se pune.
Daí surgem aquelas práticas próprias do penitente que verdadeiramente se arrepende, verdadeiramente se dói, sente ira contra si mesmo. Certamente, é indício dessa ira o bater no peito: o que a mão faz externamente, a consciência o faz internamente: golpeia-se nos pensamentos, ou melhor, produz a morte em si mesmo. E, matando-se, oferece a Deus o "sacrifício de um espírito atribulado. Deus não despreza um coração contrito e humilhado" (Sl 51,19). E, assim, raspando, quebrando, humilhando seu coração, leva-o à morte.
Embora tivesse ainda somente a disposição de falar ao pai, cogitando em seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei...", o pai, que de longe já conhece essas cogitações, foi ao seu encontro.
Que significa "ir ao encontro" senão antecipar-se pela misericórdia? Pois, "estava ainda longe, quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro". Por que foi movido pela misericórdia? Porque o filho tinha confessado sua miséria. "E correndo-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço", isto é, pôs o braço sobre o pescoço dele.
Ora, o braço do Pai é o Filho: deu-lhe, portanto, Cristo para carregar: uma carga que não pesa, mas alivia. "Meu jugo é suave, diz Cristo, e meu fardo é leve" (Mt 11,30). Ele se apoiava sobre o que estava de pé e, por apoiar-se, impedia-o de tornar a cair. Tão leve é o fardo de Cristo que não só não pesa, mas, pelo contrário, até ergue.
Não que o fardo de Cristo seja uma carga dessas que se chamam leves (não há carga, por mais leve que seja, que não tenha algum peso). Pode-se carregar um fardo pesado, um fardo leve ou, ainda, não carregar fardo algum. Anda oprimido quem carrega fardo pesado; menos oprimido quem leva uma carga leve (embora também ande oprimido); com os ombros totalmente desembaraçados, quem não carrega fardo algum. Não é dessa ordem o fardo de Cristo, mas um fardo tal que convém carregá-lo para sentir-se aliviado; se nos desvencilharmos dele, mais carregados nos sentiremos.
E que esta nossa afirmação, irmãos, não vos pareça absurda! Talvez encontremos alguma comparação que vos torne plausível, até em termos de nossa experiência sensível, o que estou dizendo. Um caso, também ele, espantoso e totalmente incrível.
É o seguinte: considerai as aves. Toda ave carrega o peso de suas asas: não reparastes como, quando descem ao chão, recolhem as asas para poder descansar e como que as levam nas costas? Julgais que estão oprimidas pelo peso das asas? Tirai-lhe este peso e cairão: quanto menos pesarem as asas, menos pode a ave voar.
Alguém que, a título de misericórdia, as privasse deste peso, não estaria sendo misericordioso. A verdadeira misericórdia está em poupar-lhes esta privação e, se já perderam as asas, em dar-lhes alimento para que readquiram asas pesadas e possam arrancar-se da terra e voar. É bem este peso que desejava o salmista: "Quem me dará asas como as da pomba para que eu voe e encontre meu repouso?" (Sl 55,7)
Assim, o peso do braço do pai sobre o pescoço do filho não o carregou, mas o aliviou; foi-lhe honroso e não oneroso . Como é, pois, o homem capaz de carregar consigo a Deus se não é porque o está carregando, o Deus que ele carrega?. E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao pecar. Tendo recebido o filho em paz, tendo-o beijado, ordena que lhe deem uma veste: esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe deem um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que sejam formosos os pés dos que anunciam a boa novaEstas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste, anel e calçados? Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de cujo tesouro são extraídos estes dons.
Mandou também matar o bezerro cevado, isto é, que fosse admitido à mesa em que o alimento é Cristo morto. Mata-se o bezerro para todo aquele que, de longe, vem para a Igreja, na qual se prega a morte de Cristo e no Seu corpo o que vem é admitido. Mata-se o bezerro cevado porque o que se tinha perdido foi encontrado. "O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar o bezerro cevado, porque o reencontrou são e salvo. Encolerizou-se ele e não queria entrar; mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito, para festejar com os meus amigos. E agora que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo! Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu; convinha, porém, fazermos festa, pois que este teu irmão estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado."

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 27 de fevereiro de 2016

O CREDO DE SANTO ATANÁSIO


  O Credo de Atanásio foi composto em 381 ou depois, provavelmente para uso catequético a fim de instruir melhor o cristão na compreensão da Santa Trindade. Santo Atanásio foi bispo de Alexandria, foi confessor e doutor da Igreja, porém esta belíssima oração foi divulgada por santo Ambrósio.
  Quem deseja ser salvo deve manter acima de tudo a fé católica [universal]. Se um homem não a mantiver no seu total, sem violação, ele certamente perecerá eternamente.
Agora, isto é, a fé católica, que nós adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em unidade, sem confundir as pessoas nem dividir a substância. Pois a pessoa do Pai é uma, do Filho uma outra, do Espírito Santo uma outra.
Mas a Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma, a Sua glória é igual, a Sua majestade é co-eterna.
Assim como é o Pai, assim é o Filho, assim também é o Espírito Santo. O Pai não foi criado, o Filho não foi criado, o Espírito Santo não foi criado. O Pai é infinito, o Filho é infinito, e o Espírito Santo infinito. O Pai é eterno, o Filho eterno, o Espírito Santo eterno. Porém, não há três seres eternos mas um eterno; assim não há três incriados, nem três infinitos, mas um que não foi criado e que é infinito. Na mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo onipotente; mas não há três onipotentes, mas um onipotente.
Então, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; porém não há três Deuses, mas há um só Deus. Então o Pai é o Senhor, o Filho é o Senhor, o Espírito Santo é o Senhor; porém, não há três Senhores, mas há um só Senhor. Por que ainda que sejamos obrigados pela verdade cristã a reconhecer cada pessoa separadamente como Deus e Senhor, assim também somos proibidos pela religião católica a falar de três Deuses ou Senhores.
O Pai não é de ninguém, nem feito, nem gerado. O Filho é somente do Pai, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho, nem feito, nem criado, nem gerado, mas procedido. Então há um Pai, não três Pais; um Filho, não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade, não há nada antes ou depois, nada maior ou menor, mas todas as três pessoas são co-eternas umas com as outras, e co-iguais. Então, em todas as coisas, como foi dito acima, ambos Trindade em unidade, e unidade em Trindade, deve ser adorada. Pois aquele que deseja ser salvo deverá pensar assim sobre a Trindade.
   Aqui é a versão defendida por J. N. D. Kelly,The Athanasian Creed (Nova Iorque: Harper & Row, 1964) 112-114, traduzida por J. S. Horrell:

Pe. Antonio Gouveia