segunda-feira, 25 de novembro de 2013

JESUS, A PONTE ENTRE JUDEUS E SAMARITANOS

        O povo samaritano e o povo Israelita, tem a mesma origem ancestral, pois ambos procedem do pai Abraão. No ano 1.000 A.C., este povo chamado de Israelita, viviam nas terras identificadas como Vale do Rio Jordão, eram formados por doze tribos que rivalizavam entre si. As doze tribos são descendentes diretos de Jacó, filho de Abraão,  são: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Neftali, Asser, Issaacar, Zebulon, Jose, Benjamim e Gaade. O rei Saul unifica essas tribos pacificando-as, as entrega ao rei Davi; com a morte do mesmo,  Salomão filho de Davi com betesaba, assume o controle das tribos, recebe de seu pai um reino rico e pacífico.
           Em 930 A.C, com a morte de Salomão, as tribos entram em crise e se separam. Duas tribos se juntam e formam o reino do Sul, essas tribos são: Judá e Benjamim, tinham Jerusalém como capital política, econômica e religiosa. O lugar sagrado do culto, era o templo de Jerusalém. Estavam sob o comando de Roboão filho de Salomão com Naamã, uma amonita, durou 359 anos, foram conquistados por Nabucodonosor, levados para o cativeiro da Babilônia.   
           As outras dez tribos:Rubens, Simeão, Dã ,Naftali, Gade, Aser, Issacar Zebulom, Efraim, Manasses, juntando-se formaram o reino do Norte chamado de Israel, tinham como capital Siquem, depois a Samaria sob o comando de Jeroboão que não era filho de Salomão, mas seu inimigo, o mesmo vinha da tribo de Efraim. Em 721 A.C. O reino do Norte foi conquistado pelos Assírios. Os sábios e doutores junto com os jovens, foram levados para o exílio Assírico por Salmanaser, no exílio perdem suas referências de fé e religião, adotam falsos deuses e uma prática religiosa pagã, miscigenando-se com o povo pagão, se tornam impuros. (esta era a acusação do reino do sul).           
          Porém o povo Judeu, não consideravam os samaritanos como israelitas, pois a bíblia relata desavenças entre esses dois povos, tanto na primeira aliança, como também no tempo de Jesus. Os samaritanos não eram vistos como povo puro, autentico, embora originando-se do pai Abraão, rejeitado pelos Judeus os samaritanos eram acusados de idólatras e de um povo infiel, pois adoravam falsos deuses que conheceram na época do exílio.
        O nome samaritano deriva de Semer, que foi o antigo proprietário de uma porção de terra comprada por Davi, onde foi construída a cidade de Samaria, vem também de Shamerim que significa observante da lei, coube ao rei Onri, sexto rei de Israel, a construção da Samaria que depois foi conquistada pelos Sírios e levada para o cativeiro.
          Para o povo samaritano, a origem das divergências com os Judeus, surge quando o sacerdote Eli, estabelece o santuário em Siló, enquanto que segundo a lei de Moisés, o lugar de adoração era Jerazim, já os Judeus não aceitavam os samaritanos e os acusam de:
  • Não prestarem culto em Jerusalém.
  • Terem uma crença formada pelo judaísmo, religião pagã.
  • Só aceitam os livros do Pentateuco: Gênesis  Êxodo  Números, Deuteronômio, Levítico.
  • Observam o sábado, oferecem sacrifícios.
        Estas brigas marcadas por sérios desentendimentos, é testemunhada por Jesus, que faz todo esforço para unir estes povos, superando o preconceito, diferenças históricas, ao mesmo tempo apresentando a boa nova da salvação, tanto para os Judeus, quanto para os samaritanos.
          Três episódios emblemáticos são vivenciados por Jesus, um é o da mulher samaritana em João-4,9, quando Jesus pede água criando assim um diálogo com o povo samaritano, através desta mulher, a quem Jesus se identifica como água da vida, querendo desta forma aplacar a sede de salvação na vida desse povo. O outro episódio importante é chamado de O bom Samaritano, em Lucas-10, 30-37, onde o personagem de um samaritano viajante, socorre uma vítima de assaltantes, que foi ignorada por um sacerdote e um levita, mais uma vez a tentativa de mostrar para os judeus a bondade dos samaritanos, outra imagem apresentada por Lucas, foi a gratidão do leproso samaritano, que foi curado no grupo dos dez. (Lucas-17, 11-19)
         Jesus universaliza a salvação, o sacrifício vivenciado na cruz é destinado à todos, também aos samaritanos, as diferenças entre esses dois povos, servem para nos dizer que, o perdão deve acontecer, as barreiras devem ser destruídas, para que o amor possa triunfar, operando o grande milagre da paz e da fraternidade.

Pe. Antonio Gouveia           
    
                   

terça-feira, 19 de novembro de 2013

SEJAMOS TEMPLOS VIVOS DO SENHOR

           O templo de Jerusalém citado nos quatros evangelhos, era um lugar onde o povo de Israel oferecia sacrifícios e ofertas. O primeiro templo foi pensado por Davi, o mesmo desejava contruí-lo como um lugar para guardar a Arca da Aliança, pois este objeto sagrado por muito tempo ficou em uma tenda provisória, desde Moisés até os dias de Davi, o desejo de Davi não foi aceito por Deus, motivo é que Davi derramara muito sangue em muitas guerras.
      A história conta que o seu filho Salomão cujo nome significa paz, começou a construção do primeiro templo, em uma propriedade que Davi comprou de Omã, um Jebuseu, com a própria fortuna e ajuda de príncipes, o templo começa a ser construído, ficando pronto depois de sete anos, o material principal foi pedra e madeira, as paredes  internas era de cedros e nelas talhadas figuras de anjos, palmeiras e flores, o teto era inteiramente revestido de ouro. O primeiro templo foi construído no lugar onde Abraão quase sacrificava seu filho Isaac; este templo foi saqueado várias vezes e destruído por Nabucodonosor II, que levou todos os tesouros para a Babilônia, destruindo todo o templo.
          Um segundo templo foi construído depois do cativeiro da Babilônia, esta segunda construção começou com um altar feito no local do antigo templo em 535 A.C. ,durante o reinado de Ciro, essa construção foi interrompida e depois retomada por Dario I, em 521 A.C., nesta segunda construção tinha um área destinada para os adoradores chamados de prosélitos, eram pessoas que não seguia as leis do judaísmo.
    Com o passar do tempo, este segundo templo ficou abandonado, sendo restaurado por Herodes, não por ser um religioso mas para agradar o povo, sendo destruído por cerca dos anos 70 D.C. pela revolta romana, tudo indica que foi este o templo que Jesus conheceu e certamente entrou nele pois era norma que todo Judeu o visitasse uma vez na vida. Hoje o que resta do templo é um muro chamado de "O muro das lamentações", local de peregrinação religiosa do povo Judeu.
    Em Mateus 27, 50-51 há uma narrativa de que no momento da morte de Jesus, rasgou-se o véu do templo "E eis que o véu do templo se rasgou de alto a baixo em duas partes a terra tremeu e fenderam-se as rochas abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos ressuscitaram".
       A mensagem que Mateus nos deixa neste relato é a de que o único e verdadeiro sacrifício realizado por Jesus, é a sua vida entregue por todos, já não é mais necessário o sacrifício de animais no templo, a entrega de Jesus por todos aboliu esta prática. O grande e grosso véu de linho puro que cobria o altar separando-o do povo, ao ser rasgado de alto a baixo fala à todos de que em Jesus todos tem acesso à Deus-Pai, não há mais empecilho entre o homem e a sua busca por Deus, a cortina foi rasgada e Jesus é o caminho, verdade e vida que conduz todos ao Pai.
   A construção desejada por Davi, só iniciada por Salomão, destruída por Nabucodonosor, reconstruído depois do cativeiro da Babilônia, a restauração feita por Herodes, a destruição do templo nos anos 70 D.C., se torna uma página importante da história de um povo com uma fé inabalável, uma busca contínua à Deus. Mas também os abusos religiosos, os desmandos políticos que saíram do templo, a opressão em nome da fé, o mal uso das ofertas que o mesmo recebia, a dominação religiosa exploradora, fez com que Jesus criticasse o templo e a sua organização: "Destruirei este templo e em três dias construirei outro", falava do templo da alma humana, morada do Espírito Santo, que todos compreenderam depois de sua ressurreição.
       O Cristo filho de Deus, como todo bom Judeu amava e defendia o templo também, pois ficou profundamente abalado quando viu que o templo tinha se tornado casa de comércio, onde cambistas jogavam e vendiam. Encontrou no templo vendedores de bois e de ovelhas e pombas e os cambistas sentados fazendo um açoite de corda expulsou os bois, derramou o dinheiro dos cambistas e virou-lhes as mesas, aos que vendiam as pombas disse "Tirai daqui tudo isso e não façais da casa de meu pai um negócio" (Jo-2, 14).
      Jesus nos ensina a importância do templo e o zelo que devemos ter para com o mesmo, pois é um espaço sagrado dedicado ao serviço do culto, ao louvor e a adoração, lugar de fé. Nos fala também daquele templo espiritual que habita dentro de cada ser humano, templo do Espírito Santo. Construamos cada vez mais em nós o templo de Deus, também zelando pelo nosso templo material, santuários, basílicas, paróquias e capelas, como expressão visível de um povo que ama e busca a Deus.

Pe. Antonio Gouveia

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

LUTAR SEMPRE CONTRA A ESCRAVIDÃO

                    A escravidão não se deu por causa da cor negra de um povo, mas por causa da ambição e da violência, fenômeno humano, registrado em vários lugares, é uma página triste da humanidade, muitos se levantaram contra esse modo de produção escravagista. Porém a igreja, sempre lutou contra a escravidão em seus vários aspectos, muitos são os documentos que condenam essa prática. O papa João VIII, já em setembro de 873, condenou a escravidão, "Há uma coisa da qual desejo admoestar-vos em tom paterno; se não vos emendardes, cometerão grandes pecados, em vez do lucro que esperais, vereis multiplicar as vossas desgraças. Com efeito por instituição dos gregos muitos homens feitos cativos pelos pagãos são vendidos nas vossas terras e comprados por vossos cidadãos que os mantém em servidão. Ora como consta ser piedoso e santo como convém ao cristão, que uma vez comprados esses escravos sejam posto em liberdade, por amor à Cristo"(Denzingr-Sch'anmetzer, enquirídio dos símbolos e divisões, nº. 668)
        Também o papa Pio II, condenou o comércio dos escravos em 07/10/1462, como um grande crime. Em 1561 Tomás de Mercado, teólogo da cidade de Servilha, declara o tráfego de escravo como algo desumano e infame. O Padre Afonso Sandoval, agiu em favor dos negros, denunciou atrocidades nas Antilhas, lutou para imprimir uma cultura anti-escravagista. Em 1639 o papa Urbano VII, publicou documentos em favor dos  escravos. Em 1707 no Brasil as primeiras constituições do arcebispado na Bahia tem um item em favor dos escravos e pede que seus senhores lhes deixassem adquirir os bens espirituais. "Conforme o direito divino e humano os escravos e escravas podem casar com pessoas cativas ou livres e seus senhores não lhes podem impedir e nem uso dele (casamento) em tempo e lugar conveniente nem por esse respeito podem tratar pior ou vende-los para outros lugares remotos" (Dom Sebastião Monteiro, vide constituições, título 71).
        O papa Pio VI, escreve a Napoleão Bonaparte imperador da França "Proibimos a todo eclesiástico ou leigo usar ou apoiar como legítimo, sobre qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar público ou particular", (L. Conti, a igreja católica e o tráfico negreiro, Lisboa 1979 página 337).
        Pio VII, se dirigiu ao congresso internacional de Viena em  1814-1815, para que a escravidão fosse condenada e abolida. Em 1700 o padre Jorge Benci, Jesuíta, publica um livro "A economia cristã dos senhores no governo dos escravos", onde condena a escravidão e critica duramente os abusos. Em 1741 o papa Bento XIV através da bula papal "Immensa Pastorum", chama por melhores condições de vida para os escravos e índios, chama de desumano os atos de prepotência contra os escravos. O padre Jesuíta André João Antoniel critica severamente os senhores de escravos na sua obra "Cultura e opulência no Brasil em 1711.
    O papa Gregório XVI em 13 / 12 / 1839 escreve "Admoestamos os fiéis que se abstenham do desumano tráfico de negros ou de qualquer outro homem que seja, o clero desse período procurava por todos os meios impedir a prática da escravidão, pois a mentalidade de que o escravo também possui uma alma e cumpre a igreja protege-la, "Ser escravo no Brasil", (Editora brasiliense S/A, SP 1982 página 118).
       Desde sempre a igreja lutou pela dignidade humana e contra todo tipo de opressão, no tocante a escravidão, muito mais deveria ter sido feito, devido condicionamentos históricos, tomou decisões próprias ao seu tempo, mas uma atitude é verdadeira, não se calou contra a escravidão e muito orientou para que a libertação acontecesse. Ordens de padres foram criadas com a intenção de evitar essa prática presente na historicidade humana pois em 1198 São João da Mata funda a Ordem dos Trinitários e os mesmos libertavam os prisioneiros, escravos, comprava-os para isso, o mesmo se deu em 1275 com os padres mercedários que já visavam a libertação dos escravos.

Pe. Antonio Gouveia