COMER, DEVE SER UM ATO DE AMOR

        O pecado leva o ser humano ao sofrimento, para socorre-lo, a igreja una, santa, católica, muito tem contribuído no enfrentamento da desordem provocada pelo mesmo, numa guerra constante e carnal o pecado luta para sufocar o espírito "Por que a carne tem tendências contrárias aos desejos do Espírito"(Gl-1,17) é a origem de todo caos que acomete o ser humano. Uma vez desestruturado o mesmo perde: sintonia, equilíbrio, paz, atitudes que edificam reintegram a pessoa com Deus. Entendendo a desordem que escraviza o ser humano, "A pior coisa é ser escravo das mais vergonhosas paixões"(Évagrio,ponto) um monge católico grego de nome Évagrio Ponto -345-399-diz que o pecado gera doenças na alma, o mesmo enumera como sendo oito: gula, fornicação, avareza, preguiça, orgulho, ira, vanglória, tristeza, uma vez identificadas, o virtuoso monge Évagrio educa as pessoas para que as vença, edificando-se e de forma santa abracem a vida cristã, fortaleçam-se no Espírito.
      O papa Gregório I, a partir da reflexão do monge, vai classificar essas doenças como os conhecidos sete pecados capitais, e combate-los pois invadem a alma, levando-a aos vícios. Pecado e vício sempre estiveram juntos abrindo caminhos para comportamentos de desordem, alojados na pessoa a leva para a ruína. "O estomago, quando não é reprimido destrói as virtudes da alma"(Gregório sétimo). Um desses pecado é a gula, palavra que vem de goela, é um desiquilíbrio de ansiedade alimentar, que quebra sintonia, do ser humano com a obra de Deus, presente nos alimentos, criados para a nossa satisfação e felicidade. Gula é o desejo por uma saciedade descontrolada, tanto na comida como na bebida é origem de todo desequilibro que molesta o ser humano, "Não andeis ansioso pela vossa vida, quanto ao que deveis de comer... a vida vale mais que o alimento" (Lc-12,23).

      É um pecado capital, traz consigo outros danos como o desequilíbrio, preguiça, lerdeza, doenças, má digestão, refluxo, obesidade mórbida... é o ato doentio de comer. Para vencer tal pecado deve-se recorrer antes de tudo à Deus, a santa virtude da temperança, jejum, e moderação, "Porque Deus não os tem dado um espírito de covardia, mas de pudor de amor e de moderação" (2 Tm-1;7). Deus nos criou para vivermos em perfeição entre corpo, espirito, natureza, vontade, amparadas pela graça divina. Porém a gula não deve ser confundida com o apetite, pois o mesmo nos faz saborear, desfrutar no cheiro, na cor, no sabor e na textura os alimentos que chega por caridade de Deus até seus filhos e filhas, quando nos dá o pão de cada dia, alimento que nos sustenta."Os alimentos que Deus criou para serem recebidos como ação de graças" (1Tm 4:3,4). 
       O guloso, é a vitima da gula, não leva em conta, qualidade, quantidade, necessidade de comer, é um desesperado, um egoísta "Põe uma faca na garganta se és um homem guloso" (Prov.23-2), não come para alimentar-se, mas para compensar as frustrações, perdas, fracassos, mágoas... Para encobrir esses buracos causados nas dificuldades da vida, busca no ato de comer alguma compensação, porém nunca vai saciar-se, pois "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt-4;4).

       Sempre será um faminto, não sente o sabor da comida, de forma insana come não para viver, mas para enganar-se, prisioneiro da gula é arrastado para o egoismo, escorregando para cobiça, vive mergulhado em infelicidade, conflito, não sente prazer na própria vida "Uma casca de pão comida em paz, vale mais do que um banquete na angustia" (Ésopo).
        Gula é um pecado associado a idolatria, pelo bem estar, tudo se resume em comer e beber, satisfazer de forma desregrada os apetites do corpo, é uma tentação que precisa e deve ser vencida. "Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma" (1Cor-6,12). Eva seduzida na proposta da serpente, cede a vontade de comer aquele fruto que em nada lhe sustentaria pelo contrário, fez perder o paraíso, vale lembrar que Esaú por não ter disciplina sobre sua fome, perdeu para Jacó o direito da primogenitura em troca de um ensopado de lentilhas."Também a gula levou a queda de Sodoma, pois é a matéria pela qual a luxúria nasce"(Cornélio, católica estudioso da bíblia) Com destaque São João Batista que jejuava e não tomava vinho, dele Jesus falou "Entre os que nasceram de uma mulher ninguém é maior que João" (Mt-11.11).
       Somos alertados, tanto na palavra de Deus como através da sabedoria da igreja, a ter sempre moderação, comedimento, disciplina, zelo, harmonia com toda obra de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo ao jejuar, nos aponta o santo caminho da liberdade e da construção de seu reino "O reino de Deus não é comida e nem bebida mas justiça e paz, é alegria no Espírito Santo" (Rm-14,17) comer deve ser um ato de louvor, ação de graças, um momento de unidade, amor, fraternidade, vida comunitária, uma oportunidade, também para refletirmos contra o acúmulo de comida para uns e falta de alimento para outros, meditarmos sobre o grande escândalo da fome que atormenta milhares de irmãs e irmãos.

Pe. Antonio Gouveia