quinta-feira, 23 de maio de 2013

NOSSOS IRMÃOS PRIMOGÊNITOS

                 O homem conheceu Eva a mulher,  ela concebeu e deu  luz à Caim dizendo:"Ganhei um homem com a ajuda do Senhor". (Gn 4, 1). Este fato aconteceu logo depois em que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, "E o Senhor Deus mandou para fora do jardim do Edem a fim de cultivar o solo de que fôra tirado tendo expulso o homem, colocou diante do jardim do Edem os Qerubins com cintilar da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3, 23), depois geraram filhos.              

          Os nomes dos filhos de Adão e Eva foram: Caim, cujo nome em hebraico está relacionado a ferro, lança; em seguida teve Abel nome que é iqual a  vento, sopro, hálito; depois foi lhe concedido Set, que quer dizer o indicado . Caim é a impiedade duro como o ferro, o primeiro a nascer, gerado na culpa, no pecado da desobediência cometido por seus pais no paraíso. "Eis que em iniquidade eu fui formado e em pecado mem comcebeu  a minha mãe", (Sl 51,50). No mesmo temos a representação da matéria, pó, terra, vaidade, inveja, ciúme e morte; tinha como ocupação lavrar a terra, de onde lhe vem a maldição pelo fato de ter matado seu irmão, "Agora serás amaldiçoado pela própria terra que engoliu o sangue de teu irmão derramado por ti, serás um fugitivo errante sobre a terra". (Gn 4, 11). Abel o segundo filho é o homem espiritual livre como o vento, o homem da fé, revestido de uma mística direcionada à Deus, esse comportamento de Abel será herdado por Set seu irmão.
                  O primeiro fratricídio (irmão que mata irmão) acontece entre esses dois filhos de Deus, predecessores nossos , o motivo é a inveja que habita no que é terreno portanto em Caim.  Este sentimento cega a pessoa  inpedindo de não ver no outro a humanidade que reside em si mesmo, ainda que corrompida.
                  Ovídio, poeta latino 43-17 A.C. escreve: "A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol, nenhum vento o atravessa; ali reina a tristeza, é fria, jamais se ascende o fogo, há sempre trevas espessas".
                  Caim e Abel, devem serem vistos como fonte de conhecimento para o ser humano, união das   duas naturezas que formam o todo , corpo e alma; Abel o puro que representa o espírito, a obediência , a devoção; Caim a rebeldia, a fúria, a matéria, os dois formam o mistério humano entrelaçados, inseparáveis, a força igualitária da matéria, e do espírito presente em todo homem; Caim é a consequência da desobediência, Abel a busca do religar-se a Deus. 
                  Podemos nos ver refletidos nesses dois irmãos que abrigam entre si, o fraco representado na morte de Abel, o vencido, o pequeno que é engrandecido por Deus "e digo-vos, amigos meus; não temais a quem mata o corpo e depois não tem mais o que fazer", (Lc 12-4), que aceita a sua oferta, o sacrifício de um animal feito com com derramamento de sangue, símbolo da própria vida, perfeita doação à Deus, pois tudo à Ele pertence, o sacrifício de Abel aceito por Deus pai, já indica outro sacrifício que acontecerá no futuro quando o Cordeiro de Deus Jesus Cristo derramará  seu sangue gerando redenção no sacrifío da cruz. Ao contrário da oferta "sacrifício de Caim" , que tira da terra os frutos com esforço, trabalho , suor,  os oferece à Deus, é um sacrifício meramente carnal, portanto revestido do egoísmo, da prepotência, sem vida por isso Deus não aceita, não basta apenas o nosso esforço para conseguirmos a salvação é necessário a graça que vem de Deus, o sacrifício de Caim não é completo, por ser alto-suficiente, aqui reside a causa da inveja do descontentamento de Caim para com Abel que termina em asasinato, "Caim disse a Abel, o irmão: Vamos para o campo! Mas quando estavam no campo, Caim agrediu o irmão Abel e o matou". (Gn 4,8).
                  O campo é um lugar distante, escondido, o degredo, a própria terra, distante da justiça de Deus, entregue à fúria terrena, é essa a luta humana marcada por invejas, rancores, inferioridades, competições, pois diante destas atitudes aparece a grandeza simbolizado em Abel motivo e raiz da inveja, na mesma está a origem de toda ruína humana.
                  O drama vivido pela família primogênita demonstra a insegurança humana sobretudo quando tem ao seu dispor, para o seu próprio bem todo poder, todo benefício, vemos isso claramente quando Adão e Eva parecem cansados de desfrutarem do paraíso, desobedecem à Deus, saboreando o fruto da árvore do bem e do mal, rompem com a proteção do paraíso,  com seus deleites, mas em compensação instigados pela curiosidade apresentada no "não pode" de Deus, passam a inaugurar na existência humana o método da experiência; se perderam o paraíso, ganharam a condição humana com todos os seus desafios. A partir desse fato a humanidade representada em Adão e Eva constroi a história, trilham seu próprio caminho, entre quedas, tropeços, lagrimas, cansaços, mostrou para todos que a vida é uma experiência de descobertas,dificuldades e também de superação.
                  Deus aceita, cobre os seus filhos com liberdade, ainda que em sofrimentos, perdas, humilhações, os assiste, os socorre, os ama profundamente, assim começa a história humana, com desobediências, fratricídios, invejas, tudo bem localizado no agir humano, sujeito da história. No ser de cada pessoa, há um misto: de coragem,  medo, fraqueza,  fortaleza, santidade, pecado, cair e levantar-se, arrependimento,culpa um Caim,  um Abel, mas somente em um há salvação, remissão dos pecados e vida eterna, tudo isso repousa em Jesus o filho de Deus que abraçou na cruz, a condenação; todo existencialismo humano presente em Caim e Abel.

Pe. Antonio Gouveia                 

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