A mensagem da boa nova que São Lucas nos proclama neste domingo o 11º. do tempo comum, acontece durante uma refeição, cujos personagens são: O Fariseu, que é o anfitrião; Jesus, o convidado ilustre; uma mulher, tida como pecadora.
Tudo vai bem com o fariseu, seus convidados e Jesus, que ao redor da mesa se encontravam, esse momento é alterado quando uma mulher apontada por todos como pecadora - este termo diz respeito à sua vida pagã, sua fraqueza espiritual - adentra à casa sem ter sido convidada, se encaminha até Jesus de forma silenciosa, mas, cheia de ousadia, coragem, impeto, sobretudo o desejo de se aproximar de Jesus, reorganizar sua vida, compreender o seu presente, conduzir melhor o seu futuro; tudo vai mudar a partir desse momento, será!
Ela trazia consigo um recipiente, apresentado como um frasco de alabastro, que era feito de uma pedra muito comum naquela região, a qual podia ser moldada da forma que o artesão preferisse, podendo ser polida. Geralmente se fazia desta pedra, objetos para conter líquidos, - como é o caso do relato do texto - o frasco que a mulher carregava, continha perfume, este objeto era frágil, para uso imediato, tanto que para abri-lo tinha que quebrá-lo, não podendo ser reutilizado.
Na verdade o Santo evangelista, ao acrescentar com destaque o frasco de alabastro, o perfume que o mesmo continha, quer chamar a nossa atenção para nos fazer entender que o ser humano é como este frasco, feito do pó da terra, frágil, porém, apesar de tal fraqueza, carregamos conosco a ação de Deus que nos criou, seu amor, a herança da vida eterna prometida por Jesus, isso pode ser visto comparado ao rico, precioso perfume - simbolo da espiritualidade - o mesmo ao ser derramado, seu suave odor, cheiro, agradável invade todo o ambiente deixando sua marca, assim é também o poder de Deus.
Para melhor situar a nossa compreensão na rica simbologia Lucana, temos as palavras de São Paulo aos Corintios: "Temos porém um tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa", (2-Cor-4, 7). A fragilidade que nos acomete, é a porta de entrada para o pecado, seu domínio. A fragrância perfumada que é o poder de Deus, seu amor para conosco, sua misericórdia que nos envolve.
Essa mulher simboliza todas as pessoas que cansadas pelo fardo do pecado, debilitadas pela fraqueza espiritual, pelos rótulos negativos. - A mulher pecadora-, já sem saída só resta-lhe encontrar forças para ir até Jesus, diante dele derramar suas lágrimas "Felizes os que choram porque serão consolados" (Mt-5,4), com elas banhar os pés de Jesus, em seguida secá-los com seus cabelos, para depois beijá-los, por último ungi-los, com perfume valioso contido numa frágil vasilha. Também devemos nos derramar diante dos pés de Jesus, somos frascos frágeis, será que temos perfume a oferecer?.
Ao chorar ela se apresenta diante de Jesus como o frasco que a mesma conduz, fragilizada. No simbolismo das lágrimas, culpa, a mesma se permite ser purificada no amor de Jesus que lhe toca a alma, unção, ao banhar os pés de Jesus a mesma já esta sendo purificada, ela decide segui-lo, caminhar na estrada que é o próprio Jesus, pois o mesmo já se identificara como caminho quando disse publicamente: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida", ao enxugar com os cabelos tão belo e santos pés, que de forma caridosa percorrera longas estradas ao encontro da fragilidade humana, afim de salvar o valioso perfume que lá jazia, ou seja, o pecador.
O cabelo é o simbolo da inteligência, da força, convém aqui lembrarmos de Sansão, quando perde seus cabelos perde também as suas forças, esta mulher ao secar os pés de Jesus com o próprio cabelo, está afirmando definitivamente, consciente a decisão de acolher na sua mente os ensinamentos, contidos nas palavras do amado mestre, a partir desse momento se deixa guiar por elas, determinando um novo trajeto em sua história de vida. Chorou! com lágrimas lavou os pés santos do salvador, secou-os, beijou-os, só depois os ungiu com óleo perfumado,- esse deve ser o processo -, chorar, deixar-se ser purificado ainda que com lagrimas, deixar-se ungir com o óleo da alegria, com ardor da santidade. Ela está se entregando, aceitando definitivamente Jesus como Rei, Senhor, Salvador de sua vida.
Diante dessa monumental prova de fé, amor, serviço, praticada por aquela tida como pecadora, o fariseu é atormentado em pensamento, incomodado no seu puritanismo religioso, pensa: "se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora", (Lc-7, 39).
O fariseu anfitrião, dono da casa, pensava dessa forma por causa de sua fé superficial, descompromissada, legalista, moralista, preconceituosa, esse era o costume comum dos fariseus viverem a sua fé. "O Espírito (perfume) é que dá a vida. A carne (o frasco) de nada serve. As palavras, que vos tenho dito, são Espírito e vida", (Jo-6, 63), o mesmo não recebeu Jesus com beijo, não derramou óleo em sua cabeça, não lhe lavou os pés, algo muito comum quando se recebia uma visita. Ao sondar o pensamento negativo do fariseu, com relação a permissão de Jesus que deixou a pecadora lavar, enxugar, beijar, ungir seus pés, o lembra que o mesmo faltou-lhe com estes gestos de acolhida que com muita generosidade foi praticado por aquela mulher, uma estranha na casa.
A mulher pecadora, por tão grande amor à Jesus teve seus pecados perdoados, isto causou espanto em todos os convidados que começaram a pensar: "Quem é este que até pode perdoar pecados?" Sabemos que trata-se de Jesus o verbo de Deus feito carne, gerado pelo poder do Espírito Santo, no santo seio da virgem Maria, que habitando no nosso meio revelou para o mundo o rosto misericordioso de Deus, derramou o perfume da salvação em favor de todos, este é o Cristo, ungido do Pai, apaixonado pelos pecadores, veio para curar os males da humanidade, perdoar os nossos pecados, com seu sangue - que é a sua vida- ensinar ao mundo a prática da acolhida, amor ao próximo, a solidariedade. Assim com este exemplo que ele nos dá ao se deixar acolher por este fariseu, que é tão pecador quanto aquela mulher, quanto eu, você, nós, eles. O grande espanto deve ser este! o Filho único de Deus, Santo, Puro, Perfeito, nos acolhe, faz refeição conosco, perdoa nossos pecados, nos ama, morre por nós, ensina-nos o caminho do céu.
Pe. Antônio Gouveia
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