terça-feira, 12 de abril de 2016

HOMILIA DO BEATO FRANCISCO PALAU - SOBRE A ORAÇÃO

 "Deus em sua providência, dispôs não remediar nossos males, nem nos conceder suas graças, senão mediante a oração, pela oração de uns, sejam salvos outros. (cf. Tg 5,16ss). Se os céus enviaram seu orvalho as nuvens choveram o Justo, abriu-se a terra e brotou o Salvador (cf. Is 45, 8), quis Deus que, à sua vinda, precedessem os clamores e súplicas dos santos profetas, particularmente as súplicas daquela Virgem singular que conquistou os céus com a fragrância de suas virtudes e atraiu a seu seio o Verbo incriado.
 O Redentor veio por meio de uma oração contínua reconciliou o mundo com seu Pai. Para que a oração de Jesus Cristo e os frutos da sua redenção se apliquem a alguma nação ou povo, para que haja quem o ilumine com a pregação do Evangelho lhe administre os sacramentos, é indispensável que haja alguém ou muitos, com gemidos, súplicas, com orações e sacrifícios, tenha antes conquistado aquele povo e o tenha reconciliado com Deus.
 A isto, entre outros fins, se dirigem os sacrifícios que oferecidos em nossos altares. A Hóstia Santa que apresentamos todos os dias ao Pai, acompanhada de nossas súplicas, não é só para renovar a memória da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, é também, para clamar com ela o Deus de bondade que se digne aplicar a redenção de seu Filho à nação, província, cidade, aldeia, àquela ou àquelas pessoas por quem se celebra a santa missa.
 Nela é onde propriamente se roga a redenção com o Pai, ou seja, conversão das nações. Antes que a redenção se aplicasse ao mundo, ou, antes que o estandarte da cruz fosse hasteado nas nações, o Pai dispôs que seu Unigênito, feito carne, o redimisse com "súplicas contínuas, com veemente clamor e lágrimas" (Hb 5,7), com angústia de morte com derramamento de todo o seu sangue, especialmente no altar da cruz, que levantou sobre o Calvário.
Deus, para conceder sua graça ainda àqueles que não a pedem nem podem ou não querem pedi-la, dispôs e ordenou: "Orai uns pelos outros para que sejam salvos" (Tg 5, 16ss). Se Deus deu a graça da conversão à Santo Agostinho, foi devido às lágrimas de Santa Mônica, e a Igreja não teria São Paulo, diz um santo Padre, se não fosse a oração de Santo Estevão. E é digno de notar-se aqui que os apóstolos, enviados a pregar, ensinar todas as nações, reconhecem que o fruto de sua pregação era efeito, de sua oração mais que de sua palavra. Quando, na escolha dos sete diáconos para que se encarregassem das obras externas de caridade, dizem: "Quanto a nós, permaneceremos assíduos à oração e ao ministério da palavra" (At 6,4). Reparem bem, dizem que se aplicarão primeiro à oração, só depois desta ao ministério da palavra, porque sem dúvida, nunca irão converter um povo sem que antes na oração tivessem conseguido que se convertessem. Jesus Cristo empregou toda sua vida em orar e só três anos para pregar!.
 Assim como Deus não concede suas graças aos homens senão mediante oração, porque deseja que o reconheçamos como fonte de onde emana todo bem, assim também não nos quer salvar dos perigos, nem curar-nos as chagas, nem consolar-nos nas aflições senão mediante a mesma oração.

Pe. Antonio Gouveia


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