sábado, 28 de setembro de 2013

A MISERICÓRDIA DE DEUS E A RIQUEZA DOS POBRES

            No vigésimo sexto domingo do t.c. ano C, a igreja reflete nas palavras de Jesus, o valor de se confiar em Deus. Através da história do rico e do pobre Lazaro, narrada por Jesus, percebemos o valor de esperar e ter confiança em Deus, que prepara para cada um, um lugar, tanto na terra como no céu.
            O homem rico de bens materiais, porém pobre na alma, desfrutava a vida vestido de forma elegante, dava festas todos os dias. O pobre materialmente chamado Lázaro, era rico na alma, pois aguardava em Deus, nu cheio de feridas, faminto, procurava a porta do rico para sobreviver, esperava sobras que caiam da mesa para matar a fome, o que sobra na mesa do rico é a causa da pobreza de Lázaro, ainda hoje os excessos dos ricos é pobreza, miséria de muitos, abandonado, sozinho, vivia na companhia dos cães, que lambiam suas feridas, tal vida de sofrimento teve fim quando morreu, mas, ao morrer vieram os anjos e o levaram para junto de Abraão.
            Morreu também o rico e foi enterrado; fica claro o destino de cada um; Lázaro levado pelos anjos. O rico simplesmente enterrado. Encontrou-se na região dos mortos meio aos tormentos que não experimentara em vida. Diante de tanto sofrimento levantou os olhos pedindo socorro, avistou o pai Abraão com Lázaro ao seu lado, aquele que antes sofrera agora desfruta da segurança,  da paz eterna. Diante desta visão, grita o ex-rico em seu sofrimento "Pai Abraão, tem piedade de mim! manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a minha língua, porque sofro muito nestas chamas". Abraão é a simbologia do Deus justiça. 
  • recorda dizendo: "Lembra-te que recebestes teus bens durante a vida, Lázaro os males, aqui Lázaro é consolado e tu é atormentado, há um grande abismo entre nós e vós, os que estão aqui não podem ir aonde tu estás, nem os daí vir aqui"
  • O ex-rico insiste: "manda Lázaro à casa de meu pai alertar os meus irmãos, preveni-los para que não venham à este lugar de tormento".
  • Abraão diz: Eles tem Moisés e os profetas que os escutem.
  • mas uma vez o ex-rico insiste: manda um dos mortos quem sabe se convertam. 
  • Abraão interpela: Se não escutam Moisés e os profetas não acreditarão num morto que voltou.
          Lázaro representa todos os periféricos da vida, aqueles identificados por Paulo na segunda leitura à Timóteo, como: o homem de Deus,  aquele que foge das coisas perversas, busca a justiça, a piedade,  vivendo na fé,  pratica  o  amor,  é manso, tem   firmeza  no  combate  da  fé.  O  rico,  são  todos aqueles  que  recebem  a  benção  da riqueza, mas  se  deixam escravizar pela mesma, isolando-se do  próximo, imagem da porta do rico que separava a realidade de Lázaro da do  rico, são aqueles apresentados por Amós na primeira leitura. Fica bem entendido, que o destino das pessoas depende  daquilo que as mesmas constroem no dia-a-dia de suas vidas.
           Lázaro em toda sua pobreza, é o perfeito testemunho dos que só esperam em Deus e suporta todos os reveses da vida, mas não se deixam abalar. Tal confiança, fez com que se encontrasse diante do pai Abraão, o abrigo seguro. Ao contrário, aquele rico sem nome desfrutava de uma vida de benesses, mas não usava nada do que possuía para construir o seu céu, recebe o lugar de tormento. 
           Se em vida o pobre Lázaro era lambido pelos cães, na eternidade o rico é lambido pelas chamas de fogo. A distância, o verdadeiro abismo que separava o pobre Lázaro do rico, agora existe na eternidade, separando o rico Lázaro daquele que arde nas chamas, sua miséria é eterna. 
        Podemos aprender que as distancias, os abismos, devem ser enfrentados enquanto estamos à caminho, em vida, como nos recorda a oração da coleta desta missa que reza: "Derramai sempre em nós a vossa graça para que caminhando ao encontro das vossas promessas alcancemos os bens que nos reservais" (missal pg 370).
         Enquanto Lázaro esperava as migalhas de pães caírem da mesa do rico, na eternidade o rico espera uma gota de água cair do dedo de Lázaro, para aliviar sua sede.
         A consciência permanece viva na eternidade, atormentado, aquele que fora rico, chega a interceder junto a Abraão em favor de seus irmãos que ficaram na terra. A questão do caminho é retomada "que escutem os profetas e as leis", percebendo a incapacidade, dos seus irmãos (são todos aqueles que no comodismo abandonam a Deus e a sua santa lei) de ouvirem as leis, a alma sofrida insiste novamente "manda um morto e eles acreditarão", tal pedido é ignorado "se não escutam Moisés nem os profetas, não acreditarão num morto que voltou". A alma do ex-rico continua sem compromisso, buscando ganhar a salvação para os seus de forma fácil. 
           Serve este relato para que fixemos nossa confiança em Deus-Pai. Deixemos a Palavra de Deus, ser a maior riqueza de nossas vidas, assim quando formos tomados pelos anjos, seremos libertos de nossos pecados, proclamaremos a bondade de Deus com os anjos e os santos.

Pe. Antonio Gouveia

sábado, 21 de setembro de 2013

LUZ QUE GERA E CONDUZ OS SEUS

               Irmãos e irmãs, a primeira leitura da profecia de Amós-8, 4-7 deste 25º. domingo do t.c ano C, deixa claro que Deus não esquecerá aqueles que maltratam os humildes, que exploram o pobre, que dão mais atenção para oportunidades que conduzem ao lucro fácil, do que para o amor fraterno, o cuidado com o necessitado. Fica claro a ação dos desonestos que controlam a vida dos carentes, desvalidos, com promessas enganadoras. 
     O mundo da riqueza, "A corrupção vem com a riqueza" (Honore Balzac) da soberba, geralmente é construído com a exploração dos pobres oprimidos, os exemplos da primeira leitura são bem claros: adulterar a balança, diminuir as medidas, dominar os pobres, a riqueza resultante dessas atitudes gera morte, não vem da prosperidade benéfica de Deus, vem de um mundo que faz oposição a um Deus caritativo, amoroso, benéfico, Deus que eleva os pobres, e está acima de todas as nações, sua glória vem dos altos céus, nunca do acúmulo resultante da exploração dos carentes, pobres que por ele é retirado da indigência, colocado meio aos nobres do seu povo. Estas duas realidades explorado e explorador historicamente estabelece um conflito de opressão, escravidão, gerando morte entre os povos.
         "Os pobres ficam ainda mais pobres quando tem que sustentar os burocratas nomeados para supostamente enriquece-los" (Mauro H. Simonsem). Contra a realidade de exploração denunciada pelo o profeta Amós, Paulo na segunda leitura, recomenda que se faça preces, orações, súplicas, direcionadas à todos os homens, sobretudo pelos que governam, por todos que ocupam altos cargos, a fim de que praticando justiça, sejam agradáveis a Deus, "A injustiça senhores desanima o trabalho, a honestidade o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vem nascendo a semente da podridão, habitua o homem a não acreditar, senão na estrela, na fortuna, no ocaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade a venalidade(...) promove a relaxação, insufla a cortesia é baixeza de todas as formas" (Rui Barbosa) estes tem o poder legitimado pelo o povo, portanto, tem como obrigação cuidar, zelar pelo bem comum. Paulo vê na oração um grito de socorro à Deus, em favor daqueles que são explorados, privados pelos seus governantes de uma vida digna, confirma o querer de Deus, que toda pessoa chegue ao conhecimento da verdade, não se deixem ser explorados, enganados. Na luz que é Deus, sigamos Jesus que convida todos à uma vida em plenitude, isto é: segurança, saúde, educação, moradia digna, alimentação, higiene, vida com pleno funcionamento mental, emocional e corporal. Paulo destaca os mestres das nações pagãs, para que convertidos no Deus da vida, zelem pela vida daquele lhe outorga o poder: o povo.
         Lucas relata o administrador que esbanja os bens do seu senhor, "Raramente começa a corrupção pelo povo" (Barão de Montesquieu) agindo com esperteza adultera o balancete, porém o administrador desonesto é elogiado na sua atitude (esperteza para o mal) marca daqueles que vivem em um mundo longe de Deus, pois os filhos desta realidade terrena são mais espertos nos seus negócios, do que os filhos da luz, realidade eterna, eu vos digo: "usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois quando acabar eles vos receberão nas moradas eternas". Cabe aqui uma pergunta: existe amizade construída com dinheiro injusto? a resposta é uma injusta amizade decorrente da esperteza do engano e da mentira, aquilo que Amós já denunciou na primeira leitura.
       Deus Senhor da vida e protetor do pobre, quer fidelidade, justiça, "A justiça sem força e a força sem justiça, são duas grandes desgraças" (Joseph Joubert) nos pequenos e grandes acontecimentos da vida, é dessas atitudes que surge a luz capaz de edificar filhos, filhas, para um mundo de justiça, daí a firme decisão de Jesus "ninguém pode servir dois senhores porque odiará a um e amará a outro ou se apegará a um e desprezará o outro" esta é realidade, divisão, os filhos das trevas, desonestos que agem com esperteza, como aquele administrador simbolo da má conduta deste mundo, que é comparado ao dinheiro, o esterco do demônio. 
      Há os que são atraídos pela luz, estes resplandecem, sendo nas trevas como autênticos filhos e filhas de Deus, só a ele servindo na liberdade, fé, amor, caridade, fazendo uso do dinheiro, porém, sem se deixar dominar e sujar por ele, mas possuídos de uma fidelidade aos olhos de Deus, a estes lhes será confiado muito mais. Deus observa o homem, a mulher santa, que o ama acima  de tudo e de todas as coisas, como pede Paulo: erguem as mãos em oração, sem ira, discussão, algo muito comum nos filhos deste mundo os desonestos, por isso infiéis nas pequenas e grandes coisas, a esses nada lhes serão confiados, por isso revoltados se lançam violentamente desesperados, roubando, adulterando, afim de compensar nas coisas vãs, aquilo que nunca terão da parte de Deus devido a sua atitude de desonestos, são estes os que constroem o deus dinheiro (bezerro de ouro dos nossos dias), um deus mudo, surdo, um ídolo apenas, que em nada lhes poderá socorrer. 
       O Deus criador, eterno absoluto, confiará àqueles que é justo nas grandes e pequenas coisas, um tesouro de valor incalculável, começando pela própria dignidade de serem filhos da luz, receberão Jesus Cristo - palavra viva de Deus -, nele a ressurreição depois de um alonga vida edificada no mesmo, serão renovados em suas esperanças, pertencem ao rebanho conduzido pelo próprio Cristo - Bom Pastor - tem a Virgem Maria como mãe, esperam alegremente a comunhão dos santos, o perdão dos pecados, desde já desfrutam dos bens celestes, concedidos bondosamente por Deus à igreja, que se lança também nas trevas para dar-lhes luz, o conhecimento e a verdade que liberta. O anúncio da santa palavra é para todos, aos bons para que cada vez se tornem melhores; aos maus para que se purifiquem, edifiquem  em Deus com uma vida comprometida na ética do amor. 
       Nos sacramentos sejam robustecidos, com corpo e sangue de Cristo, sejam fortalecidos celebrem a unidade com homens e mulheres que já desfrutam da amizade com Deus, os marcados com o sinal da fé - o batismo - que caminhando firmemente entre o pecado e santidade,  se deixando orientar pelos ensinamentos do mestre Jesus, sempre socorridos pela misericórdia infinita, constroem incansavelmente um mundo novo.

Pe. Antonio Gouveia

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ACOLHIDOS NO AMOR DO CRISTO

            O preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo derramado na árvore da vida a Santa Cruz, é a seiva divina que nos alimenta, redime, nos une a família eleita de Deus, a igreja Una, Santa Católica, "Cristo amou a igreja e por ela se entregou para santificá-la" (Ef-5, 25).
         A santidade que brota do lado aberto do Cristo, se estende à todos que na igreja receberam o batismo. Pela própria igreja somos constantemente orientados para a busca da santidade, com muita confiança, determinação, somos impelidos a lutar contra o pecado diariamente, combater as paixões, vencer o egoismo e assim aproximar-nos de Deus, ainda que nos reconhecendo pecadores", "Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos" (1Jo-1, 18), mesmo com a marca do pecado não estamos condenados, pois na misericórdia de Deus e no sacrifício de Jesus Cristo somos perdoados, ele que foi igual a nós em tudo, menos no pecado "não conheceu o pecado" (2Cor-5), "mas veio para expiar o pecado do povo", (Hb-2, 17).
     Diante do profundo amor de Deus, que de forma sobrenatural foi revelado por Jesus ao mundo, sobretudo durante os momentos mais críticos de sua vida: prisão, condenação, sofrimento e morte de cruz, é que devemos ter esperança e buscar a suavidade do perdão divino com alegria. 
         O pecado não deve ser visto apenas como erro, culpa, um deslize mas como uma ação maléfica, violenta, que se lança contra a amizade da humanidade com Deus. O pecador deve urgentemente restaurar sua união com Deus. O mesmo deve buscá-lo através do arrependimento, contrição e confissão. "Não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva", (Ez-33, 11). Este é o querer de Deus, que o pecador se converta e viva com a graça do perdão. Todos os profetas e pregadores, orientaram os homens e mulheres na primeira aliança a uma vida de penitência e conversão, um retorno a Deus que sempre nos acolhe. Como nos lembra o papa Francisco "Deus  não se cansa de perdoar".
"Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado no nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados" (At-2, 38).
        Jesus Cristo abraça o pecador, pois nele se cumpre as promessas de outrora, dando-lhe o título de perdoado, o redime de seus pecados. Vivendo no Cristo, por Cristo em Cristo, a igreja se comunica com o mundo convidando todos à conversão, uma vez convertidos o bem passa a habitar o coração humano. Como mãe e mestra a igreja nos oferece o - sacramento da penitência - momento especial onde o Cristo derrama abundantemente o balsamo perfumado de seu amor, nas feridas purulentas e fétidas,  resultante de uma vida de desregramentos e pecados. "Os teus pecados estão perdoados" (Lc-5, 20). Esta foi a atitude de Jesus com, o mundo doente, tropego, destroçado, debilitado, simbolizado nas imagens bíblicas,  como a daquele paralítico, e muitos outros pecadores de seu tempo.
            Após a ressurreição, mostrando-se aos discípulos como vencedor, gloriosamente lhes dá o Espírito Santo e afirma "Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem lhes perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos". (Lc-20, 21). Cristo passa aos discípulos esta missão e consequentemente à igreja que tem seu fundamento na apostolicidade, a mesma e que traz o coração de Deus para a humanidade.
       No momento da confissão, é restaurado o pecador, a igreja o acolhe com a mesma caridade do cristo amor salvífico, enchendo-o de paz; a própria igreja que celebra este momento, junto com o céu  se alegra, "Haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão". (Lc-15, 7).
         Sendo acolhido na misericórdia de Deus, aquele que recebeu a absolvição de Jesus pela igreja, retorna ao alegre convívio com Deus, no Espírito Santo em Cristo Jesus.  Deus deixou na igreja, esse grande tesouro para que fosse distribuídos àqueles que humildemente reconhecendo suas faltas, suspira por Deus, balindo por socorro e auxílio como a a ovelha sofredora, que é socorrida por Deus, passando a desfrutar da segurança do Bom Pastor, das verdes pastagens do convívio seguro com o rebanho, assim é o pecador, estraçalhado pelo pecado, atormentado pela culpa, arrependendo-se, contristado sofre a dor pelo pecado cometido. Abraçado pelo Cristo Bom Pastor  que acolhe o humilhado, é curado das enfermidades desfrutando do alimento espiritual: o santo evangelho, a eucaristia a interseção dos santos e dos anjos, arcanjos, serafins, querubins, tronos, dominações, podestades, principados, virtudes, infinitos outros bens que o mesmo irá experimentar interiormente.
Devemos buscar a confissão! Como faze-la?, pois já temos consciência do grande bem que ela nos favorece. É bom uma preparação antes deste grande momento, alguns passos:
  • Contemple Jesus crucificado.
  • Reze com devoção.
  • Tome uma decisão interior, que é a de fazer uma boa confissão.
  • Procure trazer à mente os pecados.
  • Peça auxílio de Cristo que lhe dê a força da humildade, para buscar o sacerdote e reconhecer que o mesmo age na pessoa de Cristo.
  • Diante do padre diga: Desejo confessar-me porque pequei.
  • Faça o sinal da cruz e reze o Ato de contrição "Senhor eu me arrependo sinceramente de todo mal que pratiquei e do bem que deixei de fazer. Pecando, eu vos ofendi meu Deus e sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas. Prometo firmemente, ajudado com a vossa graça, fazer penitência e fugir às ocasiões de pecar. Senhor, tende piedade de mim, pelos méritos da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém".
  • Abandone-se na graça de Deus e se for o caso diga: adulterei, menti, roubei cometi injustiças, difamei os outros, injuriei, tive pensamentos e conversas, e praticas imorais, tenho buscado falsas religiões, praticado outra fé, tenho duvidado da ação grandiosa de Deus, tenho criticado minha igreja, 
  • Aguarde para que o padre lhe dê a penitência.
  • Espere a absolvição.
  • Em seguida agradeça a Deus por este momento, implore a intervenção da Virgem Maria, são Jose, o auxílio da Santíssima Trindade, busque o exemplo dos santos e santas de Deus, para que cada dia, possa conviver na graça de Cristo Senhor Nosso, retornando para sua vida cotidiana, tenha como recado espiritual aquilo que Jesus falou para a mulher que ia ser apedrejada: "vai e não peques mais".
Pe. Antonio Gouveia

sábado, 14 de setembro de 2013

O FILHO , A OVELHA E A MOEDA

            As leituras do 24º. domingo do t.c ano C, nos revela a busca por Deus, em uma caminhada de pecado, - povo, Deus que se comunica; um intercessor em favor do povo -Moisés. O povo que  guiado por Moisés, se desviaram do caminho do Senhor, e sua lei, tomados por uma rebeldia pecaminosa, constroem para si o seu próprio deus, um bezerro de ouro, o adoram, lhe oferece sacrifícios, com isto, afirmam serem eles capazes  de fazer um deus, de ter uma fé que se adeque ao seu jeito de ser, recusando o Deus verdadeiro, é o povo que quer conduzir Deus, não se deixar conduzir. Diante dessa atitude Deus quer extermina-los, porém orienta Moisés a reconduzi-los ao caminho da verdadeira fé. Intercedendo junto a Deus pelo povo, Moisés relembra os servos santos, tementes, que outrora semearam a obediência: Abraão, Isaac e Israel, os bons  exemplos dos antepassados, e o pedido de Moisés, levam Deus em sua misericórdia conceder mais uma chance  ao povo desobediente.
      O salmo de número 50, apresenta o homem consciente de seu pecado, desejando voltar à Deus, o salmista pede piedade, misericórdia, purificação, quer ter suas culpas apagadas, deseja um coração novo e um espírito decidido, apresenta-se como um penitente, arrependido assim proclama o louvor de Deus.
         Na segunda leitura São Paulo escrevendo à Timóteo, agradece à Cristo Jesus por ter depositado confiança em si, por te-lo escolhido para seu serviço: o anuncio do evangelho; arrependido relembra que antes da sua conversão blasfemava, perseguia, insultava os convertidos e a Jesus, pois agia na ignorância de quem não tem fé, assim como aqueles que construíram para si um falso ídolo, o bezerro de ouro da primeira leitura. Paulo testemunha que encontrou misericórdia diante de Deus, foi totalmente possuído pela graça de Jesus Cristo, passando pelo processo de conversão, prega a certeza de que Cristo veio ao  mundo para salvar os pecadores, e se diz o primeiro dos salvos, pois ele viu e experimentou a grandeza de Cristo em seu coração, afirma: "Ele fez de mim um modelo de todos os que crerem nele, para alcançar a vida eterna".        
        No evangelho, Lucas apresenta Jesus Cristo rodeado de pecadores, publicanos, fariseus e mestres da lei, sendo criticado, "Este homem acolhe pecadores e faz refeição com eles". Para faze-los compreender o profundo amor de Deus, Jesus lhe conta três histórias: a primeira é de um pastor que tem cem ovelhas, perdendo uma deixa as noventa e nove no deserto, vai atrás daquela que se perdeu, encontrando-a, coloca-a nos ombros com alegria, festeja com os amigos por te-la encontrado, diz que a conversão de um pecador causa muita alegria no céu. Esta primeira história representa o estado animal do ser humano, cego em sua brutalidade, agindo na ignorância despreza Deus, é aquele comportamento do povo no deserto que, rudes na fé, tomados de estupides, no primitivismo da existência, criam seus ídolos falsos, presta-lhes sacrifícios e adoração; o pastor que traz a ovelha nos ombros é a imagem  do Deus amoroso, que em seu filho Jesus Cristo carrega os pecados, a bela imagem do Redentor que na cruz salva a humanidade.
        A segunda história, fala de uma mulher que tem dez moedas de prata, perde uma, acendendo uma lampada a procura cuidadosamente, quando encontra festeja com suas amigas. Esta história, nos ajuda a compreender toda pessoa que se perde, ao distanciar-se de Deus, vivendo em blasfêmias, despreza a fé, como o próprio Saulo, que se deixando guiar pela luz da lampada que é Deus e sua palavra, permite-se encontrar, tornando-se um novo homem: Paulo, que pode ser compreendido como a prata polida pela fé, lustrada pela conversão. 
       Podemos perceber um salto qualitativo, se na primeira história a mensagem é para identificar o ser que não caminha mas é carregado por Deus, simbolizado na ovelha, na segunda história Paulo é o símbolo do homem que já caminha com seus próprios pés, ou seja, é capaz de buscar a própria conversão.     
          Na terceira história, o homem e seus dois filhos, o mais novo abandona a casa do pai. Aqui temos o uso da liberdade humana, algo que favorece infinitas experiências, cair e levantar-se, o filho mais novo é o homem que se distancia de Deus, percorre caminhos de insegurança, esbanja os bens, mistura-se com porcos, passa fome, vive na lama, não suportando o sofrimento se arrepende,  humilhado volta para a casa do pai que abandonara.
       O pai imagem de Deus, acolhe o filho arrependido; é Deus acolhendo o pecador, celebra, festeja, alegra-se, porque resgatou-o da perdição, gesto igual nas outras duas histórias. O filho mais velho que reclama com o pai, deve ser compreendido como aquela parcela da humanidade que está recebendo de Deus, todas as graças, mas ainda não se divinizou, é ciumento, invejoso, porém está a caminho. Assim Jesus apresenta para os publicanos, pecadores, fariseus e mestres da lei, do seu tempo e de hoje também, o contínuo amor de Deus que nos carrega em seus ombros,-  a ovelha nos ombros do pastor- percebe o quanto somos valiosos,- a moeda de prata- permite o uso da liberdade- o filho que abandona  a casa do pai. 
      A ovelha, socorrida nos relembra que necessitamos sempre da graça de Deus. A prata, é o deixar-se trabalhar, ser purificado por Deus; o filho que se distancia da casa paterna revela, enganos, ilusões, tormentos, capazes de criar no ser humano a purificação, ainda que no sofrimento. Imagens da ovelha, moeda, filho, que deixa o pai, devem ser compreendidas como estágios do ser humano na busca de Deus. As três parábolas, ensina-nos a compreender o amor de Deus; fala da experiência de quem está longe de Deus, no fundo do poço, o jovem, da lama, o homem com o auxilio da graça pode levantar-se, entre quedas e reerguimento, pode retornar "O sofrimento é sempre um encontro consigo mesmo: o sofrer amadurece" (Clarice Lispector), a Deus, que é sempre acolhida para o pecador arrependido, é amor, misericórdia, para com todos. Pela palavra de Deus, com o trabalho evangelizador da igreja, levemos ao céu, alegria por convertermos pessoas para Deus. 
        Peçamos ao Espírito Santo, à Virgem Maria mãe de Deus, São José, sermos sempre amparados pelo o bom pastor, a graça do arrependimento, a fim de que sejamos sempre mais valiosos para Deus.

Pe. Antonio Gouveia

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O ESPÍRITO SANTO

             O Espírito Santo, é  identificado nas sagradas escrituras com dois termos: um no hebraico HUACH, outro em grego PNEUMA, nas duas expressões o significado é igual, a folego, vento, sopro, ar, todas a expressões sugere vitalidade, talvez por isso Jesus para transmitir o Espírito Santo soprou sobre os apóstolos, gesto presente no momento da criação do homem, Deus soprando nas narinas de Adão. A pneumatologia é o estudo do Espírito Santo, em suas reflexões, defende que o mesmo procede do pai e do filho, igualmente a Deus possui os chamados atributos divinos como: onipresença "para onde me irei tenho o teu Espírito, para onde fugirei da tua face? se subo ao céu lá está tu; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também". (Sl-139, 7-8); a onisciência "mas Deus revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus, porque qual dos homens sabe as coisas dos homens, senão o Espírito de Deus que nele está, ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus". (1Cor-2,10)onipotência, "Os impossíveis dos homens é possível para Deus" (Lc.18-27). O Espírito Santo se manifesta derramando nos seus: sabedoria, inteligência, fortaleza, ciência, piedade, temor, discernimento. Os sete dons na sua perfeição e santidade nos inspira para o Bem, o seu doador em perfeita comunhão com o Pai e o Filho, intercede em favor dos fiéis para que realize as obras do Senhor, na santidade e retidão. "Quando uma pessoa está repleta do Espírito Santo,  ela esquece que pertence a este mundo e age como se estivesse no céu". (São João Maria Vianney).
                O mesmo se manifesta, procedente de Deus Pai e o  foi soprado aos discípulos por Jesus (Jo-20, 22), é uma promessa de Jesus; sendo pessoa divina tem juízo. (Atos-15, 28), tem mente (Rm-8, 27), tem conhecimento (1Cor-2, 11), tem emoção: amor, tristeza, alegria, ele fala, ouve, dá testemunho e guia para a verdade. Por isso sonda com profundidade o ser humano.
             No Antigo Testamento, o Espírito Santo é o Senhor que vive em perfeita comunhão com o Pai e o Filho, é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, que toca com seu poder a origem de tudo, nos inspira existirmos em Deus, é o intercessor prometido por Jesus e nos enriquece com seus dons: dons de poder, cura, fé, operar maravilhas, dom da palavra, dom da sabedoria, dom do discernimento. Além das informações contidas nas Sagradas Escrituras sobre o Divino Espírito Santo, a igreja assistida pelo mesmo é inundada de sua sabedoria, "e com grande propriedade e conhecimento atribui ao Pai as obras de poder, ao Filho as obras de sabedoria e ao Espírito Santo as obras de amor", (Encíclica sobre a presença e virtudes admiráveis do Espírito Santo nº. 5).  
      Com o recurso de analogias, o Espírito Santo é apresentado de forma simbólica, mesmo assim não é compreendido totalmente, pois a sua ação está aquém das palavras e dos símbolos. As Sagradas Escrituras nos apresenta imagens para ajudar-nos a compreende-lo, por exemplo:
  • Água, assim como a água percorre, umedece a vida e se adéqua a qualquer vasilha, também é a ação do Espírito Santo.
  • Pomba, a agilidade da pomba nos remete ao poder do Espírito Santo, que pousa na terra e vai aos ares a hora que quer.
  • O óleo, o azeite usado no mundo antigo como meio de cura, por penetrar fácil na pele, assim é o Espírito Santo que perpassa a nossa realidade e nos cura.
  • Luz e fogo, a chama do fogo é disforme, crepitante,  palpitante, aonde existe põe as trevas à correr, assim é o Espírito Santo.
  • Vento, Ar, força invisível que perpassa todas as realidades, esta é a imagem bem apropriada para o Espírito Santo.

         A pneumatologia Paulina apresenta na carta aos Gálatas nove frutos, para serem saboreados no espírito,  (Gl-5, 22-23) é também uma forma de alimento uma comunhão para a alma que quer robustecer-se no poder da santíssima trindade.

  • Caridade, é o ato que nos aproxima uns dos outros em nossas necessidades e pobreza.
  • Alegria, é a ação que possui a pessoa em momentos de encontro com Deus e com o próximo no Espírito Santo.
  • Paz, em hebraico SHALOM, paz ela é indispensável nos relacionamentos, necessária para  existência tranquila do mundo.
  • Longanimidade, é um benção derramada por Deus afim de que percebamos o valor da vida e como ela deve ser protegida e defendida sempre.
  • Benignidade, é o próprio Espírito Santo benéficamente concedendo seu poder a todos aqueles que por ele clamar. 
  • Bondade, "uma pessoa boa é aquela que pensa bem do outro, fala bem do outro e quer o bem do outro", (Dom Bosco). É uma virtude, indispensável para produzir frutos bons nos filhos e filhas de Deus.
  • Fidelidade, é uma firme experiência de fé nas realidades invisíveis, o esperar com confiança e cumprir com amor o que nos pede a Santa Palavra de Deus e a Igreja, una, santa, católica e apostólica.
  • Mansidão, é uma atitude para com o próximo, é semear a paz, é mesmo um ministério abraçado pela obediência afim de que haja paz no EU, em casa, na comunidade eclesial, no mundo. 
  • Continência, é o autodomínio de si próprio, com relação a realidades exteriores, é a virtude de alguém que possuí controle sobre algo,  sobre si mesmo.
             Na profissão católica de nossa fé, reconhecemos a força e a importância da ação do Espírito Santo, algo que já era proclamado na era apostólica "Creio no Espírito Santo", pois o mesmo assiste a igreja e a fortalece caridosamente, derramando em seus membros as qualidades benéficas que provém de si, desde o momento do batismo, como na unção sacerdotal, diaconal e episcopal, age no coração da igreja, fazendo-a pulsar no mundo, como sinal do amor do Pai, revelado no Cristo, em perfeita comunhão com o Espírito Santo.

sábado, 7 de setembro de 2013

ESVAZIANDO-NOS, DEUS NOS POSSUIRÁ

             No 23º. domingo do t.c. A.C., o conjunto de leituras mais uma vez nos convida a rezar, a partir da nossa própria condição humana. Na 1ª leitura (Sb-9,13-18), o questionamento é muito pertinente, "Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?". Como resposta, percebemos que este conhecimento não se dá no nível natural do ser humano, pois o mesmo é corruptível, racional; cético: aquele que chega a duvidar da existência de Deus, mas não a nega totalmente. Muitas vezes de comportamento politeísta: despreza a fé num Deus único e verdadeiro, crendo na existência de vários deuses. Panteísta: aquele que acredita que Deus é tudo, e tudo é Deus, o homem é um mini-deus. Deístas: afirmam que Deus é o princípio e causa do mundo, Deus está no mundo mas não ordena o mundo, isto cabe ao homem. Todas essas formas de pensar não levam ao mistério sagrado. "Na verdade os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas", a causa da timidez e da incerteza, encontram-se na corrupção originária, na argila (barro), aquilo que oprime a alma.
           Se há algum homem que pode conhecer os desígnios de Deus, este é Jesus, pois é a própria sabedoria encarnada, aquele que do alto veio para tornar retos os caminhos dos que estão na terra, cabe a todos aprender a sabedoria com a própria sabedoria, que é Jesus.
              O salmo 89, retoma a fragilidade do homem, tema da 1ª. leitura e suas incertezas,  sua brevidade quando descreve que todos voltam ao pó, são como um sono da manhã passam, são frágeis como a erva verde que floresce pela manhã, a tarde é cortada e secará, por isso precisamos da sabedoria, que é Jesus, clamar por piedade e compaixão, só assim a bondade do Senhor virá sobre nós e o trabalho humano será fecundo.
       Na 2ª. leitura São Paulo a Filemon: testemunha o quanto se realizou ao servir a sabedoria, ele está preso em Cristo, acolhe Onésimo o escravo fugitivo, este escravo é a imagem de todo prisioneiro que busca a liberdade, Paulo é a própria imagem da acolhida amorosa. Paulo devolve Onésimo ao seu senhor, mas pede que não o aceite como escravo, sim como um irmão querido, uma pessoa liberta, como um irmão no Senhor, alguém capaz de viver em comunhão de fé, compreendemos aqui que a fé é capaz de nos libertar de nossas prisões, para que possamos viver em liberdade, assim como filhos de Deus, buscar a sabedoria.                   O evangelho deste domingo, apresenta Jesus diante de uma grande multidão que precisa ser libertada, Jesus os convida de forma radical, dizendo: "Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e irmãs e até da própria vida, não pode ser meu discípulo". Jesus não é contra a família, o pai, a mãe, os filhos; Jesus não esta anulando o mandamento de honrar pai e mãe, mas, com estas palavras ele quer qualificar o ser discípulo como alguém profundamente radical, está nos convidando a desligarmos da dependência com os nossos familiares, a mergulharmos de forma profunda no amor cristológico, até mesmo a cortarmos o cordão umbilical, que cria dependências que, muitas vezes impede o crescimento espiritual.
    Além destas exigências, Cristo afirma de que temos de carregar a nossa cruz e caminhar com ele, cada um tem a sua cruz, cada um deve ter responsabilidade, honestidade no cumprimento da Palavra de Deus, firmeza na fé, coragem nos momentos de provações, muitas vezes isso não se cumpre na vida das pessoas, quando o pai e a mãe os irmãos e irmãs passam a mão na cabeça, mimam, paparicando, impedem o crescimento espiritual, é neste sentido que Cristo nos alerta, cada um deve seguir o seu curso, enfrentar suas dificuldades, confrontar-se com o seu eu, mergulhar em si mesmos, é nesta forja que o discípulo é formado, não no oba-oba, num impulso momentâneo.
      Lucas, apresenta como exemplo, alguém que vai construir uma torre, mais nada calcula por isso começará mais nunca terminará, muitos são aqueles que até tem o desejo de ser discípulo, mas querem apenas os aplausos, lucros financeiros, não se preparam para as dificuldades concernentes ao discípulo sincero e verdadeiro, esses afoitos de momento são como ervas verdejantes, que no primeiro calor do sol secam, são aquelas sementes que não brotam.
      Para bem destacar a importância do discípulo decidido e disposto, conta a história do rei que ao sair para guerrear, examina seu exército, tem o poder de enfrentar o inimigo. O discípulo é como este rei coroado por Deus, para ser diante dos outros sinal de esperança, coragem, discernimento, afim de enfrentar seus próprios inimigos, que é tudo aquilo que atravessa seu caminho para atrapalhar sua missão; as provações de todas naturezas: a indiferença das almas tíbias na fé, os arrogantes que debocham da igreja e da palavra de Deus, os caluniadores, os difamadores até mesmo aqueles inimigos que se alojam momentaneamente dentro do discípulo: a fraqueza de fé, o abatimento espiritual, o distanciamento da oração, as angústias, os tormentos interiores, diante das frustrações. 
    Aquele que quer ser grande e bom discípulo, deve enfrentar todas essas adversidades, a tudo renunciar em sua vida, oferendo todo espaço interior, para que possa ser preenchido de sabedoria e dos desígnios de Deus, tal qual Paulo que abandonando-se no serviço, no discipulado, alegrando-se nas provações, testemunha: "Já não sou eu que vivo é o Cristo que vive em mim".
         Além de Paulo que imitando Cristo,  muitas pessoas ao longo dos séculos abraçaram a vocação missionária, sacerdotal, religiosa e leiga, são exemplos de que este radical convite de Jesus com todas as suas exigências, não é recusado, muitos são os homens e mulheres que desde cedo se identificam com o Cristo: São Francisco de Assis, abandonando as honras e riquezas deste mundo, torna-se discípulo da pobreza, de forma tão extraordinária que recebe em seu corpo o selo do amor, os santos sinais da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, as chagas nos pés, nas mãos e no peito. 
          Santos missionários que abandonaram sua pátria, seus lares, para levarem a palavra de Deus a outros continentes, monges, monjas, que no contínuo exercício da oração e do silêncio, entregam-se abraçando a solidão dos claustros, os chamados religiosos, religiosas, que inseridos no mundo secular, testemunham a esperança com amor e a santa caridade, defendendo a vida, servindo à Deus na pessoa do pobre: A beata Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dorothy Stang apaixonada pela natureza, defendendo aqueles que dela dependiam para viver, os seringueiros, lavradores... derrama seu sangue na floresta Amazônica. Dom Oscar Romero assassinado enquanto celebrava a Santa Missa, pois a sua atuação pastoral em defesa dos pobres e marginalizados incomodou os poderosos. O Beato João Paulo II que não escondeu suas dores, enfermidades, anulando a si próprio para testemunhar diante do mundo a confiança no Cristo, os milhares de leigos, leigas, discípulos, discípulas, vivas em nossas comunidades. Doutora Zilda Arns no socorro as crianças desnutridas, milhares de sacerdotes, freiras atuando em hospitais, leprosários, creches, casa de abrigo, nas periferias da vida, se deixam usar por Deus como sinal de socorro e esperança para muitos desesperados.

Pe. Antonio Gouveia

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

QUATRO HOMENS DE DEUS

                 O que sabemos sobre Jesus Cristo, não é resultante do que ele mesmo escreveu, pois não há relatos de que Cristo escrevera  algo,  não há nada de escrito por ele em papel, uma vez rabiscou o chão e só. Porém, de forma profundamente misteriosa, Jesus tocou com o seu poder a existência de quatro homens, que se deixaram marcar de forma definitiva, tornando-se testemunhas autentica do mesmo, ofereceram suas vidas para que Jesus pudesse marcá-las com sua graça, na letra do amor, com tinta da sabedoria.
         Jesus vai escrever nos seus corações, uma forte e estrondosa história de amor, unindo-os de forma sobrenatural ao conhecimento celeste. Movidos pelo o Espírito Santo  à uma paixão descomunal, enamoram-se pelo filho de Deus, Jesus o nosso Senhor e Salvador, a ele entregara suas vidas, o escutaram com profundo silencio "o ouvido é o caminho do coração", (Voltaire)|tornando-se livros vivos, passando para todo mundo suas experiências, com Cristo. Nos contam a história do salvador, com suas próprias vidas, relatando com o próprio sangue nas páginas da humanidade, tão grande mistério "É a imagem da fé!, quantos mais torturados mais fecundos, quanto mais perseguidos mais vitoriosos" (Dom Vital) são estes, os quatro santos evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, deixaram-se incendiar, ardendo no amor absoluto, revelam o dia-a-dia de Jesus, sua divindade ao mundo, através de seus escritos, os quatro evangelhos:

  • Mateus, também chamado de Levi, filho de Alfeu, era um cobrador de impostos, odiado e desprezado, tido como um sujo, pois vivia da porcentagem que recebia dos impostos. Era um intelectual, foi chamado pelo próprio Jesus, atendendo, segui-o para o resto de seus dias, escreveu o primeiro evangelho, em grego ou aramaico?, nos anos 44 e 45 D.C. na Síria. Destinado aos Judeus, o seu evangelho é composto por 28 capítulos, 1.071 versículos, descreve Jesus como um descendente do rei Davi, isto para nos dizer que Jesus é Rei. A figura simbólica que representa o evangelista Mateus, é a de um anjo com rosto de homem, isto para mostrar a natureza humana de Jesus, terminou seus dias como mártir na Etiópia.
  • Marcos, também chamado de João Marcos, não fez parte dos doze, seus pais eram seguidores de Jesus, o que ele escreveu é resultante das longas conversas que teve com São Pedro, de quem era discípulo. O seu evangelho possui 16 capítulos e 661 versículos, escreveu em grego entre os anos 65 e 70 D. C. em Roma para os cristãos convertidos, a figura simbólica de Marcos é um Leão, simbolismo que serve para mostrar a força de Jesus, foi nomeado por São Pedro como o primeiro bispo de Alexandria, também foi martirizado e mostra Jesus nos seus escritos como o servo sofredor, revestido de coragem e força.
  • Lucas, não conviveu com Jesus, diz a tradição que é um médico, também um artista, era amigo de Paulo, além do seu evangelho, também escreveu o livro de Atos dos Apóstolos. Para compor o evangelho, recebeu informações diretamente da Virgem Maria. O evangelho de Lucas é composto por 24 capítulos, 1.149 versículos, escreveu originariamente em grego, na cidade de Éfeso nos anos 70 D.C., dedicou seus escritos a um tal Teófilo, nome que pode ser traduzido como amigo de Deus, a sua figura simbólica é um touro, para mostrar a imagem do Cristo sacerdote, pois o touro era sacrificado no altar. Na nova aliança Jesus é imolado na cruz, para nos salvar, Lucas descreve Jesus como O Filho de Deus, foi martirizado na Acaia - Grécia.
  • João, filho de Zebedeu e Salomé, além do evangelho, escreveu também o livro do Apocalipse, é chamado de o discípulo fiel, o amado de Jesus, escreve seu evangelho em grego na cidade de Éfeso nos anos 90 D.C., seu evangelho tem 21 capítulos,  871 versículos, escreve para os Judeus. Sua figura simbólica é uma águia que serve para mostrar a natureza divina de Jesus, apresenta Jesus como O Verbo de Deus - o Filho de Deus.
              Os escritos de Mateus, Marcos e Lucas, são chamados de sinóticos, palavra que pode ser traduzida por: ter a mesma visão, olhar juntos. Os escritos se identificam, ha muitas similaridades. O evangelho de João omite muitos relatos presentes nos assim chamados sinóticos. Muitas são as informações dignas de fé deixadas por estes quatro santos evangelistas, que preenchidos pelo conhecimento divino, experimentaram as lidas penosas da terra, homens fracos, porem assistidos pelo Espírito Santo, encorajados no amor à Deus, e vivos na fé testemunharam, registraram os acontecimentos vitais de Jesus Cristo, sua paixão pelos pecadores, os sofrimentos, os testemunhos, a vida das primeiras comunidades cristãs.
      Quis Deus que estes santos homens, documentassem para o mundo a existência de Jesus. João nos afirma: "Há porém, muitas outras coisas que Jesus fez, se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio que o mundo inteiro não caberia os livros que seriam escritos". (Jo-21, 25).
    Façamos todo esforço para conhecer a verdade, vive-la, dedicando-nos a Jesus em palavras e atitude, "Não basta conquistar a sabedoria é preciso usá-la" (Cicero), peçamos a continua interseção desses quatro evangelistas, discípulos, pregadores, orantes, obedientes, santos e mártires, afim de que possamos viver em tudo para a glória de Deus, e sua palavra seja para nós alimento, caminho para a santidade, com o mesmo ardor desses quatro homens de Deus, ofereçamos também a nossa vida como testemunho do amor de Deus, que vivifica a Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica, a mãe e mestra que através das Santas Escrituras educa e santifica todos os seus filhos.
Pe. Antonio Gouveia

domingo, 1 de setembro de 2013

É JESUS QUEM CONVIDA, AGUARDE !

              Na 1ª.  leitura da missa do 22°. domingo do t.c. aparece com destaque três qualidades: Mansidão; alguém que tem o domínio sobre as emoções. Generosidade; gente de boa qualidade, aquele que não se apega aos bens materiais; Humildade; é a atitude que faz a pessoa reconhecer as suas fraquezas. São como forças capazes de transformar o ser humano, levando-os à encontrar graça diante de Deus, dessas  praticas queridas por Deus, abraçada por muitos, é a humildade que se destaca  "Pois ate o sol com toda a sua grandeza, se põe e deixa a lua brilhar" (Bob Marley), por meio dela se conhece os mistérios de Deus, todo seu poder, é também um meio de glorificar a Deus de forma profunda.
       Também apresenta um outro comportamento humano, que é o orgulhoso, o antônimo de amizade, para esse não existe remédio, por isso o orgulhoso e doente."O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios (Sto. Agostinho) O manso, o generoso, o humilde, é também inteligente, pois desenvolve a capacidade da reflexão para bem acolher a palavra do sábio, sempre fica atento, desejoso de sabedoria, estes dons criam o bem e constroem com a graça de Deus, o céu ainda na terra.
        O Salmo no refrão, apresenta-nos a imagem do céu como um grande banquete preparado por Deus, destinado aos humildes, aos mansos e aos generosos. "Com carinho preparastes uma mesa para o pobre".(Sl-67) 
        A palavra pobre, pode ser compreendida primeiramente no seu aspecto escatológico, são todos aqueles que por seus próprios méritos, não conseguem possuir o céu, o banquete de Deus, destinado àqueles a quem ele socorre com sua misericórdia, a pobreza humana é auxiliada na sobrenaturalidade de Deus, somos mendicantes de Deus. "Felizes os que tem espírito de pobre, porque deles é o reino dos céus" (Mt-5, 3), na nossa pobreza espiritual, somos enriquecidos com o amor de Deus, que nos justifica com sua misericórdia, por isso os pobres devem se alegrar no Senhor, nele confiar e esperar.
    Uma outra compreensão da palavra pobre, é politico-sociológica, nos ajuda a fazer uma leitura a cerca das mazelas sociais como: fome, violência, misérias... resultante da  atitude dos orgulhosos, que querem tudo para si, impedem o amor, carcomidos pela ambição, fazem reinar a fome e a miséria, gerando pobreza, espiritual e material."A ambição de possuir mais do que qualquer outra coisa, é o que impede o homem de viver de maneira livre e nobre" (Bertrand Russeell). Contra ela, devemos lutar usando a inteligência, sabedoria e a fé, para quebrar as estruturas do mal que institucionaliza a pobreza na terra.
      Jesus é o homem manso, generoso, humilde, é o mediador de todos, com a nova aliança, sua palavra que nos envolve acolhendo á todos, sobretudo os justos que chegaram a perfeição, e seus nomes resplandecem escritos no céu, que é simbolizado na cidade de Sião, a Jerusalém celeste, lugar de festividade, confraternização, morada dos anjos, é esta a realidade que São Paulo nos convida a experimentar, algo que é muito mais forte do que o fogo ardente, tempestade e escuridão, que será superada na luz da boa nova, acreditemos.
         O evangelista Lucas, descreve Jesus Cristo comendo na casa do chefe dos fariseus em um dia de sábado, podemos entender aqui uma igreja doméstica, a comunidade Lucana compreende um Jesus que ultrapassa o templo, agindo fora das estruturas da lei, acolhendo todos, aleijados, coxos cegos, mazelas que servem para identificar o pecado e o pecador .
         Lucas nos diz que o primeiro lugar não deve ser tomado de forma superficial. é bom fazermos um profundo exame de consciência para vermos se de fato merecemos os primeiros lugares, se lá conseguiremos chegar.      O primeiro lugar é oferecido pelo dono do banquete, Deus, que acolhe o manso "Quem pratica a mansidão sempre sai ganhando, por que tem as rédeas das emoções em suas mãos" (Mt-5-5), o humilde, aquele que aprece no texto de Lucas de forma surpreendente, fica no último lugar: o manso, humilde, generoso, pois não usa para si o que praticou de bom, como argumento para conquistar o primeiro lugar, "Nós poderíamos ser muito melhores, se não quissemos ser tão bons" (Sigmund Freud) é o elevado, foi valorizado. Lucas também nos orienta a agir com gratuidade, à partir do agir de Deus, devemos acolher aqueles que nada podem fazer para retribuírem o bem recebido, como por exemplo: os pobres, aleijados, coxos, cegos, é exatamente isso que Deus realiza, prepara um banquete para todos os carentes e necessitados, nós, eu, você, ele, o que podemos oferecer a Deus se ele já tem tudo?

Pe. Antonio Gouveia