sábado, 7 de setembro de 2013

ESVAZIANDO-NOS, DEUS NOS POSSUIRÁ

             No 23º. domingo do t.c. A.C., o conjunto de leituras mais uma vez nos convida a rezar, a partir da nossa própria condição humana. Na 1ª leitura (Sb-9,13-18), o questionamento é muito pertinente, "Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?". Como resposta, percebemos que este conhecimento não se dá no nível natural do ser humano, pois o mesmo é corruptível, racional; cético: aquele que chega a duvidar da existência de Deus, mas não a nega totalmente. Muitas vezes de comportamento politeísta: despreza a fé num Deus único e verdadeiro, crendo na existência de vários deuses. Panteísta: aquele que acredita que Deus é tudo, e tudo é Deus, o homem é um mini-deus. Deístas: afirmam que Deus é o princípio e causa do mundo, Deus está no mundo mas não ordena o mundo, isto cabe ao homem. Todas essas formas de pensar não levam ao mistério sagrado. "Na verdade os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas", a causa da timidez e da incerteza, encontram-se na corrupção originária, na argila (barro), aquilo que oprime a alma.
           Se há algum homem que pode conhecer os desígnios de Deus, este é Jesus, pois é a própria sabedoria encarnada, aquele que do alto veio para tornar retos os caminhos dos que estão na terra, cabe a todos aprender a sabedoria com a própria sabedoria, que é Jesus.
              O salmo 89, retoma a fragilidade do homem, tema da 1ª. leitura e suas incertezas,  sua brevidade quando descreve que todos voltam ao pó, são como um sono da manhã passam, são frágeis como a erva verde que floresce pela manhã, a tarde é cortada e secará, por isso precisamos da sabedoria, que é Jesus, clamar por piedade e compaixão, só assim a bondade do Senhor virá sobre nós e o trabalho humano será fecundo.
       Na 2ª. leitura São Paulo a Filemon: testemunha o quanto se realizou ao servir a sabedoria, ele está preso em Cristo, acolhe Onésimo o escravo fugitivo, este escravo é a imagem de todo prisioneiro que busca a liberdade, Paulo é a própria imagem da acolhida amorosa. Paulo devolve Onésimo ao seu senhor, mas pede que não o aceite como escravo, sim como um irmão querido, uma pessoa liberta, como um irmão no Senhor, alguém capaz de viver em comunhão de fé, compreendemos aqui que a fé é capaz de nos libertar de nossas prisões, para que possamos viver em liberdade, assim como filhos de Deus, buscar a sabedoria.                   O evangelho deste domingo, apresenta Jesus diante de uma grande multidão que precisa ser libertada, Jesus os convida de forma radical, dizendo: "Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e irmãs e até da própria vida, não pode ser meu discípulo". Jesus não é contra a família, o pai, a mãe, os filhos; Jesus não esta anulando o mandamento de honrar pai e mãe, mas, com estas palavras ele quer qualificar o ser discípulo como alguém profundamente radical, está nos convidando a desligarmos da dependência com os nossos familiares, a mergulharmos de forma profunda no amor cristológico, até mesmo a cortarmos o cordão umbilical, que cria dependências que, muitas vezes impede o crescimento espiritual.
    Além destas exigências, Cristo afirma de que temos de carregar a nossa cruz e caminhar com ele, cada um tem a sua cruz, cada um deve ter responsabilidade, honestidade no cumprimento da Palavra de Deus, firmeza na fé, coragem nos momentos de provações, muitas vezes isso não se cumpre na vida das pessoas, quando o pai e a mãe os irmãos e irmãs passam a mão na cabeça, mimam, paparicando, impedem o crescimento espiritual, é neste sentido que Cristo nos alerta, cada um deve seguir o seu curso, enfrentar suas dificuldades, confrontar-se com o seu eu, mergulhar em si mesmos, é nesta forja que o discípulo é formado, não no oba-oba, num impulso momentâneo.
      Lucas, apresenta como exemplo, alguém que vai construir uma torre, mais nada calcula por isso começará mais nunca terminará, muitos são aqueles que até tem o desejo de ser discípulo, mas querem apenas os aplausos, lucros financeiros, não se preparam para as dificuldades concernentes ao discípulo sincero e verdadeiro, esses afoitos de momento são como ervas verdejantes, que no primeiro calor do sol secam, são aquelas sementes que não brotam.
      Para bem destacar a importância do discípulo decidido e disposto, conta a história do rei que ao sair para guerrear, examina seu exército, tem o poder de enfrentar o inimigo. O discípulo é como este rei coroado por Deus, para ser diante dos outros sinal de esperança, coragem, discernimento, afim de enfrentar seus próprios inimigos, que é tudo aquilo que atravessa seu caminho para atrapalhar sua missão; as provações de todas naturezas: a indiferença das almas tíbias na fé, os arrogantes que debocham da igreja e da palavra de Deus, os caluniadores, os difamadores até mesmo aqueles inimigos que se alojam momentaneamente dentro do discípulo: a fraqueza de fé, o abatimento espiritual, o distanciamento da oração, as angústias, os tormentos interiores, diante das frustrações. 
    Aquele que quer ser grande e bom discípulo, deve enfrentar todas essas adversidades, a tudo renunciar em sua vida, oferendo todo espaço interior, para que possa ser preenchido de sabedoria e dos desígnios de Deus, tal qual Paulo que abandonando-se no serviço, no discipulado, alegrando-se nas provações, testemunha: "Já não sou eu que vivo é o Cristo que vive em mim".
         Além de Paulo que imitando Cristo,  muitas pessoas ao longo dos séculos abraçaram a vocação missionária, sacerdotal, religiosa e leiga, são exemplos de que este radical convite de Jesus com todas as suas exigências, não é recusado, muitos são os homens e mulheres que desde cedo se identificam com o Cristo: São Francisco de Assis, abandonando as honras e riquezas deste mundo, torna-se discípulo da pobreza, de forma tão extraordinária que recebe em seu corpo o selo do amor, os santos sinais da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, as chagas nos pés, nas mãos e no peito. 
          Santos missionários que abandonaram sua pátria, seus lares, para levarem a palavra de Deus a outros continentes, monges, monjas, que no contínuo exercício da oração e do silêncio, entregam-se abraçando a solidão dos claustros, os chamados religiosos, religiosas, que inseridos no mundo secular, testemunham a esperança com amor e a santa caridade, defendendo a vida, servindo à Deus na pessoa do pobre: A beata Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dorothy Stang apaixonada pela natureza, defendendo aqueles que dela dependiam para viver, os seringueiros, lavradores... derrama seu sangue na floresta Amazônica. Dom Oscar Romero assassinado enquanto celebrava a Santa Missa, pois a sua atuação pastoral em defesa dos pobres e marginalizados incomodou os poderosos. O Beato João Paulo II que não escondeu suas dores, enfermidades, anulando a si próprio para testemunhar diante do mundo a confiança no Cristo, os milhares de leigos, leigas, discípulos, discípulas, vivas em nossas comunidades. Doutora Zilda Arns no socorro as crianças desnutridas, milhares de sacerdotes, freiras atuando em hospitais, leprosários, creches, casa de abrigo, nas periferias da vida, se deixam usar por Deus como sinal de socorro e esperança para muitos desesperados.

Pe. Antonio Gouveia

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